Título: O aniversário do euro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2007, Notas e Informações, p. A3

Ao completar cinco anos de circulação, o euro foi adotado por mais um país, elevando para 13 o número de nações que aderiram a ele. A Eslovênia, o novo membro do clube, é o primeiro país do antigo bloco comunista a adotar a moeda comum européia. Meia década depois de lançado, o euro tornou-se uma moeda de referência internacional. Valorizou-se em relação ao dólar, vem ganhando preferência dos bancos centrais de outras partes do mundo e aumenta sua participação nas reservas de países asiáticos e produtores de petróleo, ocupando espaços antes dominados pela moeda americana.

Quando o euro começou a circular em 12 dos 15 países que então formavam a União Européia (UE) - Inglaterra, Suécia e Dinamarca não adotaram a moeda comum -, não se esperava a sua consolidação e seu fortalecimento em tão pouco tempo. Mais difícil ainda era imaginar que, ampliado o bloco pouco tempo depois de lançada a moeda única, um país do antigo bloco comunista estaria em condições de cumprir as exigências necessárias para adotar o euro.

Dos países do Leste Europeu admitidos na UE em 2004 (quando mais dez nações passaram a fazer parte do grupo), a Eslovênia foi o que fez a transição mais bem-sucedida para o capitalismo. Há 16 anos declarou sua independência e conseguiu manter-se fora da guerra civil que envolveu a antiga Iugoslávia. Hoje, os eslovenos têm uma renda per capita de US$ 21.500, bastante próxima da média dos 12 países da zona do euro, de US$ 26.353. A adoção do euro é um atestado que coloca a Eslovênia como a economia mais avançada do antigo bloco comunista europeu.

A moeda comum foi instituída para aprofundar a integração da UE, fortalecê-la e aumentar sua resistência às crises internacionais. Primeiro, o euro foi utilizado como moeda escritural. Em 1º de janeiro de 2002 passou a circular como moeda corrente. O volume colocado em circulação, inicialmente de 200 bilhões, agora é de 600 bilhões, o que prova a aceitação da moeda.

Políticos de alguns países da zona do euro, porém, ainda sentem saudade da moeda nacional e da política monetária autônoma, que podiam administrar de acordo com suas conveniências, ora para estimular as exportações, ora para fazer crescer os investimentos, ou com os dois objetivos simultaneamente. O baixo dinamismo da economia européia nos últimos anos tem alimentado esse tipo de sentimento junto à população. No momento em que se apresenta mais forte perante outras moedas, o euro tem a pior avaliação entre os europeus. Em 2002, a moeda única tinha índice de aprovação de 59%; agora, de apenas 48%.

Mas as rigorosas condições exigidas pela UE para a aceitação de um novo membro e, depois, para a adoção da moeda comum têm disseminado, até mesmo para fora da Europa, padrões mais responsáveis de políticas públicas. Respeito à democracia e aos direitos humanos, práticas comerciais aceitas internacionalmente, política fiscal restritiva (baseada em limites para o déficit público) e inflação sob controle estão entre os requisitos que os países interessados em fazer parte do bloco precisam cumprir. A Eslovênia não apenas os cumpriu, como, tendo harmonizado sua política econômica com a dos países da zona do euro, se habilitou a adotar a moeda.

Alguns governos têm se esforçado para cumprir as exigências, mas com êxito parcial, o que está criando uma espécie de membros de ¿segunda classe¿ da UE. No mesmo dia em que a Eslovênia adotou o euro, a Romênia e a Bulgária, dois outros antigos integrantes do bloco comunista, foram admitidos na UE, agora formada por 27 países. Mas a admissão foi feita sob condições. Dez países do bloco imporão restrições à entrada de trabalhadores romenos e búlgaros a seus territórios; a Comissão Européia fiscalizará a ação dos governos dos dois países em questões como corrupção e combate ao crime; e regras rigorosas serão aplicadas a exportações de determinados produtos agrícolas. Mesmo assim, Romênia e Bulgária consideraram vantajoso aderir à UE. O título de sócio atrai investimentos internacionais.