Título: Guarda que filmou execução é preso
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2007, Internacional, p. A12

Autoridades iraquianas prenderam ontem um guarda da prisão onde Saddam Hussein foi executado, acusado de ser o responsável pelo vídeo mostrando o enforcamento do ex-ditador. Segundo o conselheiro de Segurança Nacional do Iraque, Mowaffak al-Rubaie, mais dois suspeitos deveriam ser presos na madrugada de hoje.

O guarda, que não teve sua identidade revelada, depôs sobre as imagens, que mostram Saddam (um sunita) sendo insultado por funcionários xiitas. O vídeo, aparentemente feito pelo celular, vazou para sites e TVs menos de 24 horas depois do enforcamento, no sábado.

As imagens provocaram a fúria dos sunitas - que avaliaram a execução como uma vingança, e não um ato de justiça - e intensificaram as tensões sectárias com os xiitas. ¿O enforcamento não foi uma linchamento sectário, como os sunitas estão dizendo. Mas creio que o comportamento de alguns dos presentes foi inaceitável¿, afirmou Rubaie. ¿Acredito que algumas pessoas se infiltraram na prisão - algo que deve ter sido planejado por TVs árabes¿, completou.

Há temores de que mesmo sunitas moderados acabem se voltando contra o gabinete do primeiro-ministro xiita, Nuri al-Maliki, diminuindo as chances de se formar um governo de união nacional. Nas imagens do vídeo, homens xingam Saddam e saúdam Muqtada al-Sadr, clérigo xiita. As provocações só acabam com o enforcamento.

Militares americanos disseram que, se fossem responsáveis pelo enforcamento, o teriam realizado de modo diferente. ¿Mas decisão não era nossa, e sim do governo iraquiano¿, disso o general William Caldwell porta-voz do Exército dos EUA em Bagdá. Autoridades americanas revelaram que tentaram persuadir Maliki a adiar a execução para hoje, quando termina o Eid al-Adha - feriado do sacrifício e do perdão, evitando que o ato fosse interpretado como uma ofensa.

Em uma reportagem do jornal The New York Times, um funcionário do governo dos EUA afirma que Maliki apressou a execução de Saddam por temer que uma demora no enforcamento pudesse incitar insurgentes a realizar seqüestros em massa para barganhar a libertação de Saddam. Em entrevista ao Wall Street Journal, Maliki disse que preferiria deixar o cargo antes de encerrar seu mandato, em 2009.

Ainda ontem, foi divulgado um vídeo gravado há duas semanas em que aparecem quatro americanos e um austríaco, funcionários de uma empresa de segurança, que haviam sido seqüestrados em novembro no sul do Iraque. Sem aparentar maus-tratos, eles disseram que os seqüestradores pedem a libertação de iraquianos presos pelos EUA e pela Grã-Bretanha.