Título: Cabral aposta na 'desgarotização'
Autor: Tosta, Wilson e Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2007, Metrópole, p. C3

A rapidez com que o novo governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), anunciou que pediria ajuda do governo federal para combater o crime organizado foi um gesto político pensado para separar sua imagem da administração da antecessora, Rosinha Matheus (PMDB), e sinalizar que pretende ¿desgarotizar¿ o Estado. Na quinta-feira da semana passada, quando Rosinha demorou para se pronunciar sobre os ataques criminosos e, depois, dispensou auxílio externo para controlar a situação, Cabral decidiu que era hora de agir.

Cabral Filho telefonou para o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e, durante seminário fechado, no Tribunal de Contas do Estado (TCE), avisou a auxiliares que chamaria a União para ações emergenciais de Segurança Pública. E assim que Rosinha dispensou oficialmente a ajuda de Brasília, o novo governador eleito disse a Lula que, tão logo assumisse, adotaria postura inversa.

Nas solenidades de posse e transmissão de cargo, na segunda-feira, dia 1º, Cabral Filho continuou com a coreografia de diferenciação em relação ao casal Rosinha e Garotinho. Na cerimônia , ele pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos ataques e prometeu revidar as ações dos ¿facínoras¿. Depois, no Palácio Guanabara, voltou a dizer que enfrentaria os criminosos e prometeu não colocar seus interesses políticos acima dos do Estado, o que, segundo ele, tem feito ¿mal¿ ao Rio de Janeiro - uma referência clara ao casal e à postura de atrito constante com o governo Lula.

Anteontem, na cerimônia de transmissão da chefia da Polícia Civil, Cabral disse que quer uma polícia técnica. Falou em ¿desconectar¿ a Segurança Pública da política partidária e em valorizar o mérito na promoção de policiais - Rosinha, em um dos seus últimos atos, promoveu vários PMs com longo período de serviço nos gabinetes refrigerados do Poder Executivo.

Cabral contou que só conheceu os chefes das polícias no dia em que os apresentou à imprensa. ¿Não constará no currículo de qualquer servidor da Segurança Pública quantos políticos ele tem como amigos¿, discursou.

Segunda-feira, depois da posse no Rio, Cabral Filho voou para Brasília para fazer o anúncio político do pedido de ajuda na posse do presidente Lula. O próprio presidente estimulou a cooperação: o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, telefonou para o secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, que recebeu, no Rio, a visita do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Paulo Lacerda. Os dois reuniram-se com o secretário de Segurança do governo Rosinha, Roberto Precioso.