Título: Mudança na Eletrobrás traz tensão ao mercado
Autor: Pamplona, Nicola e Barbosa, Alaor
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2007, Economia, p. B4

A saída de Aloísio Vasconcelos da presidência da Eletrobrás provocou tumulto no mercado financeiro e abriu a temporada de especulações sobre o futuro da companhia. O anúncio foi feito pela companhia ainda pela manhã, numa ação atabalhoada com reflexos negativos nas ações da empresa e ruídos com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Agora o mercado espera a escolha de um nome técnico capaz de tocar o processo de profissionalização da estatal, prometido pelo governo no fim do ano passado.

O novo presidente será escolhido pelo PMDB, partido que controla a Eletrobrás desde a ida de Silas Rondeau para o Ministério de Minas e Energia. Por enquanto, a empresa será presidida pelo diretor de Engenharia, Valter Luiz Cardeal, próximo à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Em nota, a empresa informou que haverá um rodízio de diretores na presidência até que o Conselho de Administração convoque reunião e indique o novo presidente.

A notícia foi mal recebida pelo mercado financeiro e resultou em queda de 3,04% nas ações da companhia no pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que caiu 2,07%. Além disso, houve ameaça de notificação pela CVM, uma vez que o fato relevante anunciando a saída foi divulgado após a confirmação junto à imprensa, em um momento em que a companhia luta para aprimorar práticas do mercado financeiro e lançar ADRs (certificados de ações) de nível 2 na Bolsa de Nova York.

Internamente, Vasconcelos justificou o pedido de demissão, feito em carta no dia 29 de dezembro, alegando ter recebido proposta da iniciativa privada. Comenta-se, porém, que o executivo não vinha se entendendo com Cardeal nem com o diretor financeiro da empresa, José Drummond Saraiva. O primeiro não se reportava a Vasconcelos, já que tem acesso direto a Dilma, e Drummond discordava abertamente das decisões do presidente.

Na avaliação de especialistas, a escolha do novo presidente terá impacto decisivo no futuro do sistema elétrico brasileiro, já que o Brasil precisa de grandes obras no setor, como as usinas do Rio Madeira e de Belo Monte. É quase certo que essas usinas terão participação estatal - fator que motivou o governo a lançar a idéia de que a Eletrobrás deve ser a ¿Petrobrás do setor elétrico¿. E é consenso que a empresa precisa retomar capacidade financeira e gerencial para cumprir esse papel. Se estes investimentos dependerem de acordos políticos, dificilmente serão concluídos nos prazos necessários.

¿O mercado espera que o novo nome tenha um perfil técnico, a exemplo de Vasconcelos, diante das necessidades atuais do setor elétrico brasileiro¿, diz um analista que preferiu não ser identificado. O temor é que um quadro essencialmente político não tenha condições de tocar o processo de renovação gerencial proposto por Vasconcelos. ¿A empresa precisa de uma melhoria operacional para que possamos tocar grandes projetos com agilidade¿, diz um executivo de carreira da estatal.

Nos corredores, estima-se que a permanência de Cardeal será curta e que o PMDB procurará um quadro técnico como Vasconcelos, que já passou pela Cemig e por empresas privadas ligadas ao setor elétrico. No fim do ano, a diretora de administração da companhia, Aracilba Alves da Rocha, deu entrevista afirmando que ficaria com a vaga. Aracilba foi indicada pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que não foi reeleito.