Título: Inquérito sobre sigilo de caseiro chega à Justiça
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2006, Nacional, p. A11

Mesmo sem ter analisado os extratos telefônicos do ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, a Polícia Federal envia na próxima segunda-feira à Justiça o inquérito sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

O delegado Rodrigo Carneiro Gomes, encarregado do inquérito, explicou que a empresa Brasil Telecom ainda não enviou os dados, mas isso não prejudica o inquérito porque o ex-ministro Palocci já está indiciado pelo crime e, qualquer que seja o resultado da análise, não altera a sua condição.

DILIGÊNCIAS

Aberto em março e concluído em maio, o inquérito foi devolvido à Polícia Federal para diligências complementares. A pedido do Ministério Público, a Justiça Federal quebrou o sigilo telefônico de Palocci na semana de 10 a 17 de março, a fim de verificar com quem o ex-ministro se comunicou na semana em que foi violada a conta bancária de Nildo, na Caixa Econômica Federal.

Mas, segundo Gomes, já são suficientemente robustas as provas de que partiu de Palocci a ordem para a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro. O ex-ministro está indiciado pelos crimes de violação de sigilo bancário e funcional e prevaricação.

Estão também denunciados como co-autores o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso e o ex-assessor de imprensa do Ministério da Fazenda, Marcelo Netto, ambos demitidos em razão do escândalo.

Os dados telefônicos, segundo delegado, servirão para reforçar o rol de provas e serão posteriormente enviados à Justiça para assegurar a condenação dos acusados. Palocci pode pegar de dois a oito anos de prisão, mesma pena a que está sujeito Mattoso. Acusado de ter vazado os dados bancários à imprensa, Netto pode pegar até três anos de prisão.

"DINHEIRO ESTRANHO"

Depois de várias tentativas de se livrar do escândalo, o líder do governo no Senado, Tião Viana (PT-AC), último a depor no inquérito, admitiu na semana passada ter tomado conhecimento de rumores sobre a existência de "uma grande soma de dinheiro estranho" na conta do caseiro Francenildo.

Ele garantiu, todavia, que não teve participação na violação do sigilo. Por falta de provas, a PF não o indiciou.

Pivô da queda de Palocci, Nildo revelou, em entrevista ao Estado, no dia 14 de março deste ano, que o petista era freqüentador de mansão do Lago Sul, em Brasília (DF), onde lobistas da "República de Ribeirão" se reuniam, promoviam festas e partilhavam dinheiro. Informado da existência de uma alta soma na conta de Nildo, Palocci envolveu vários órgãos numa operação para desmoralizar o caseiro, incluindo a Caixa e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Tentou, sem sucesso, envolver a PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).