Título: 58% dos britânicos querem Blair fora do governo em 2006
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2006, Internacional, p. A14

Mais da metade dos britânicos quer que o primeiro-ministro Tony Blair abandone o cargo até o fim do ano. Segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal The Daily Telegraph, 58% querem a saída rápida de Blair.

Só 7% dos entrevistados querem que ele fique no poder até 2007, como Blair anunciou pretender fazer na quinta-feira. Blair, há nove anos no cargo, se desgastou principalmente pela sua política externa, que culminou com o envio de soldados ao Iraque, em 2003.

Ontem, o favorito a suceder Blair - o atual ministro das Finanças Gordon Brown - foi alvo de críticas no interior de seu próprio partido, o Trabalhista. O ex-secretário de Interior Charles Clarke qualificou o comportamento de Brown na crise como "absolutamente estúpido". Brown saiu de uma tensa reunião com Blair exibindo um largo sorriso.

Muitos jornais britânicos fixaram as datas prováveis de saída de Blair do cargo para os dias 4 ou 31 de maio. No entanto, o próprio primeiro-ministro não quis fixar uma data exata. Blair disse, porém, que não ficará durante todo o mandato, e não há como voltar atrás nesse ponto.

Um cronograma possível seria que Blair anunciasse, durante a conferência de 16 de fevereiro que deixará o cargo após as eleições de maio na Escócia e no País de Gales. Então, após uma campanha de seis semanas envolvendo cerca de 1 milhão de membros do Partido Trabalhista possibilitaria que Brown assumisse a chefia do partido - e do governo - no meio de junho.

O PROVÁVEL SUCESSOR

Os assessores mais próximos de Brown têm sido reservados sobre os planos de Brown para os primeiros 100 dias no cargo. A única notícia que corre é que haverá surpresas.

Brown e seus assessores estariam analisando uma ampla gama de temas, do Iraque a mudanças climáticas. Mas há ceticismo - mesmo entre seus próprios partidários - sobre o sucesso de Brown em fazer alguma m'udança radical ao assumir o governo.

Uma das mudanças prováveis é na relação entre o governo britânico e os EUA. Apesar de todos os primeiros-ministros britânicos desde 1945 manterem uma aliança com Washington, a forte proximidade de Blair com Bush é alvo de críticas. Brown pode optar por uma relação mais distante com o presidente americano.

Outra das prováveis mudanças, que se relaciona com a primeira, é a retirada das tropas britânicas no Iraque - calcanhar-de-aquiles de Blair. Tanto o Ministério de Relações Exteriores quanto o da Defesa já admitem privadamente que uma possível retirada no meio do próximo ano, justamente a época em que Brown pode assumir. As tropas britânicas estão sobretudo no sul do Iraque, área de menos conflito em comparação ao norte e oeste, vigiados pelos EUA. Dessa forma, passar o poder às forças iraquianas nessa área parece possível. Bush poderia, porém, pedir que a Grã-Bretanha mantenha tropas, para não deixar os EUA sozinhos.