Título: Corte dos juros vai continuar, diz BC
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2006, Economia, p. B1

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deixou clara a continuação do processo de queda da taxa básica de juros, a Selic. Mas permanece a dúvida sobre o tamanho do corte na reunião de outubro na taxa, reduzida em 0,50 ponto porcentual na semana passada, para 14,25% ao ano. Embora o documento divulgado ontem pelo BC aponte para a possibilidade de 0,25 ponto, também deixa em aberto - a depender do comportamento da inflação - a chance de 0,50 ponto.

O sinal de corte menor foi dado em dois pontos do documento. No item 21, informa que, na última reunião, pensou em cortar a Selic em 0,25 ponto, mas resolveu ir além porque a inflação foi menor que o previsto e as expectativas para os preços caíram. Ou seja, os juros poderiam cair mais, sem risco de repique da inflação.

"O Copom avaliou a conveniência de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual. Apesar de entenderem que diversos fatores respaldariam tal decisão, os membros do comitê concluíram que, neste momento, uma redução de 0,50 ponto porcentual resultaria em maior adequação das condições monetárias correntes à melhora no cenário prospectivo para a inflação observada entre julho e agosto", diz o texto.

No item 22, o BC manteve a expressão "maior parcimônia", introduzida na ata de julho, que, na ocasião, levou economistas a acreditar que o corte de 0,5 ponto daquele mês seria o último. "O Copom entende que a preservação das importantes conquistas no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda real, poderá demandar que a flexibilização da política monetária seja conduzida com maior parcimônia", destaca o BC.

Para o economista Alexandre Póvoa, do Banco Modal, ao admitir a possibilidade de corte menor, o BC tenta conter as expectativas do mercado para as taxas futuras, que têm maior impacto na atividade econômica e na inflação. Para o BC, apostas em queda mais rápida dos juros nos próximos meses poderiam aquecer demais a economia.

"O BC atuou para segurar um pouco a festa do mercado. Olhando só a ata, a próxima redução na Selic será de 0,25 ponto. Mas não dá para descartar a hipótese de corte de 0,50 porque até a próxima reunião sairão muitos indicadores econômicos novos", disse Póvoa, lembrando que, na quarta-feira, o IBGE divulgou a inflação de agosto, de 0,05%-, bem abaixo das estimativas.

"A ata sugere mais cautela do BC, mas não se pode descartar novo corte de 0,50 ponto na próxima reunião", concorda Zeina Latif, do Banco ABN Amro. Ela, porém, prevê redução de 0,25 ponto em outubro. E destaca a afirmação da ata de que os cortes anteriores ainda não se refletiram na atividade econômica e, portanto, na expectativa da inflação futura. "O BC está olhando praticamente só para 2007 agora."

Para o economista-chefe da ARX Capital, Sérgio Goldenstein, a ata não trouxe nenhuma advertência sobre um eventual aumento dos riscos para o cumprimento da meta de inflação, o que favorece a expectativa de queda maior dos juros.

Segundo ele, essa expectativa será reforçada quando as projeções para a inflação de 2007 caírem e ficarem abaixo da meta de 4,5%, até porque a queda da inflação atual reduz a inércia para o ano que vem. Ele também destacou que a atividade econômica vem tendo crescimento modesto e houve queda no uso da capacidade instalada da indústria.

O Copom manteve a projeção de reajuste zero para a gasolina neste ano, mas destaca que o aumento dos preços do petróleo ampliou o risco de essa previsão não se concretizar. Póvoa estranhou essa avaliação, diante da recente redução dos preços internacionais dos combustíveis. Segundo ele, já haveria espaço até para redução de 9% nos preços. "Aparentemente, o BC quer sugerir que a Petrobrás pode fazer um reajuste este ano e depois reduzir os preços do combustível em 2007 para ajudar no controle da inflação", diz Póvoa.