Título: Na CPI, empresário inocentou tucano
Autor: Francisco, Nelson
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2006, Nacional, p. A4

Mesmo pressionado durante horas por deputados petistas, no depoimento dado em 3 de agosto para a CPI dos Sanguessugas, o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e chefe da máfia das ambulâncias superfaturadas, resistiu e negou qualquer envolvimento do ex-ministro da Saúde José Serra com o esquema. Em sua primeira versão, muito diferente da apresentada em entrevista à revista IstoÉ, ele contou que no governo Fernando Henrique não era necessário recorrer a intermediação ou pagar propina para liberar recursos.

'O governo Fernando Henrique sempre honrava, não com a minha interferência. Era normal o governo liberar. Não era eu que fazia o governo liberar ou eu que negociava; liberava-se normal', disse Vedoin, na ocasião, ao responder a pergunta insistente do deputado Eduardo Valverde (PT-RO), durante interrogatório na sede da Polícia Federal em Brasília.

Apertado por Valverde, um dos mais empenhados em averiguar o suposto funcionamento do esquema no governo tucano, Vedoin contou que não colaborou com a campanha de Serra à Presidência, em 2002. 'E o ministro José Serra, na condição de candidato a presidente, recebeu algum tipo de contribuição legal da Planam?', perguntou o deputado. 'Com José Serra, nem legal nem ilegal foi passado, nenhum valor para ele de ajuda de campanha', afirmou.

Ao ser inquirido pelo deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), Vedoin disse que de 1999 a 2002 o dinheiro dos convênios entrava em sua conta depois da publicação pelo Diário Oficial da União. Insatisfeito, Santiago quis saber com quem a Planam tratava para conseguir receber eventuais valores não pagos pelo Ministério da Saúde nesse período. 'Não tratava com ninguém', assegurou.

'A Planam alguma vez recebeu orientação do ministério para tratar desse assunto com representantes ou porta-vozes, ou algumas pessoas procuravam a empresa para intermediar o recebimento de restos a pagar entre 1998 e 2002?', insistiu o deputado. Vedoin respondeu: 'Não, porque não havia. Pouca coisa, deputado. Não tinha nem como... Tinha dez carros, eu ia ficar... Não tinha restos a pagar, muito pouco. Nesses anos, até emenda de bancada empenhava-se e pagava-se.'

A insistência dos petistas na participação do PSDB no esquema era tanta que já na inquirição a Vedoin ele citavam o nome do empresário Abel Ferreira como possível intermediário. Mas até ali, Vedoin dizia desconhecer esses detalhes, incorporados na versão dada à IstoÉ.