Título: Vedoin e ex-tesoureiro do PT presos por venda de vídeo ligado a sanguessugas
Autor: Francisco, Nelson
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2006, Nacional, p. A4

O empresário Luiz Antônio Vedoin, acusado de chefiar a máfia dos sanguessugas, e seu primo, Paulo Roberto Trevisan, foram presos na tarde de ontem pela Polícia Federal em Cuiabá (MT). Os dois foram detidos sob acusação de ocultar documentos e vender material que seria usado para 'chantagear pessoas', segundo a Justiça.

Já estava acertada a venda do material ao lobista Valdebran Carlos Padilha da Silva, ligado ao PT de Mato Grosso, e ao advogado Gedimar Pereira Passos. Às 6h, ainda antes de Vedoin ser detido, a PF prendeu os dois com cerca de R$ 1,8 milhão, em notas de dólar e real, em um hotel de São Paulo.

Segundo a PF, Vedoin preparava-se para embarcar ao lado do primo às 23h30 para São Paulo com uma fita de vídeo, um DVD, uma agenda e seis fotos relacionadas às investigações da máfia dos sanguessugas.

Valdebran, apontado como receptador, é próximo do deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT) e foi tesoureiro da campanha do petista Alexandre César à prefeitura de Cuiabá, em 2004. César presidiu o Diretório Estadual do partido. No ano passado, Valdebran foi indicado por petistas para assumir uma diretoria na Eletronorte, mas não chegou a ser nomeado. Gedimar é um ex-agente da PF.

O delegado substituto da superintendência da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse que a apreensão dos documentos e do dinheiro é um indício de que 'haveria uma negociação'. A PF não descartou a possibilidade de que a negociação pudesse envolver interesses partidários. 'Nós recebemos a informação de que Luiz Antônio estaria negociando provas com a máfia dos sanguessugas. Não sabemos se seriam partidos ou não', disse o delegado.

Com Valdebran Padilha a PF apreendeu US$ 109,8 mil e R$ 758 mil. Gedimar Passos foi preso com US$ 139 mil e R$ 410 mil. 'Eles não souberam comprovar a origem lícita desse dinheiro', disse o delegado. Os dois tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça.

Segundo o delegado Pereira, as imagens e fotos aprendidos com Vedoin e o primo mostram José Serra, hoje candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), o governador Dante de Oliveira (morto neste ano) e os deputados federais Lino Rossi (PP-MT), Pedro Henry (PP-MT) e Thelma de Oliveira (PSDB-MT).

As gravações teriam sido feitas em 2001 na Planam, empresa acusada de ser o pivô do esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras - os veículos eram comprados com verbas federais liberadas a partir de emendas de parlamentares ao orçamento. A CPI dos Sanguessugas concluiu que 72 parlamentares receberam propinas pela intermediação desses negócios.

De acordo com o delegado, nos 23 minutos do DVD aparece um ato de entrega de 40 ambulâncias para municípios de Mato Grosso, no qual os políticos discursam. Serra, por exemplo, era ministro da Saúde na época. Todo o material teria sido gravado dentro da empresa. Segundo a PF de Mato Grosso, a documentação que Vedoin negociou como prova para chantagear políticos é 'velha' e já havia sido divulgada pela mídia.

O juiz-substituto da 2ª Vara Federal em MT, César Augusto Bearsi, decretou as prisões alegando que a decisão serviria para garantir a ordem pública e 'impedir o réu de continuar chantageando pessoas envolvidas vendendo provas'.

Vedoin já havia ficado preso por meses depois que a PF desencadeou a Operação Sanguessuga, no início de maio. Após negociar benefícios em troca de colaboração nas investigações, ele havia sido posto em liberdade.