Título: Cai desigualdade social, mas cresce trabalho infantil no País
Autor: Tereza, Irany e Rodrigues, Karine
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2006, Nacional, p. A18

O retrato de três anos do governo Lula revela algumas imagens surpreendentemente negativas, como o aumento do trabalho infantil, o primeiro desde 1992, e o recuo do rendimento real do trabalho, que na média ficou em R$ 781 -13% mais baixo do que o valor médio dos oito anos do governo Fernando Henrique, R$ 898. Mostra, também, dados positivos, como a aceleração no ritmo de redução da desigualdade social e o crescimento no nível de ocupação. Na análise de um período maior, de dez anos, também houve evolução na educação: subiu a média de anos de estudo, aumentou o ingresso na escola e caiu a taxa de analfabetismo, de 14,7% para 10,2%.

Estes são alguns dos dados apresentados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2005 (Pnad), o mais completo levantamento socioeconômico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 'Houve avanços nos últimos dez anos, mas a velocidade de melhoria de alguns indicadores é lenta para as necessidades do País', avalia o presidente do IBGE, Eduardo Nunes.

O estudo, repetido a cada ano, mostra que o brasileiro vive hoje a esdrúxula situação de ter mais acesso a telefone (71,6% dos domicílios) do que a rede de esgoto sanitário (69,7%). A inversão da prioridade na prestação dos serviços é resultado direto, por um lado, da privatização da operação de telefonia e a conseqüente universalização do atendimento; por outro, da demora na definição do marco regulatório para o setor de saneamento básico.

Pela primeira vez, o número de residências onde existe apenas telefone celular é maior do que o de dotadas de linha fixa. O Brasil também entrou definitivamente na era da internet pelas mãos das crianças e adolescentes - a grande massa nacional de internautas. Mas o acesso ainda é bastante limitado às classes de renda e de instrução mais alta.

A pressão feminina no ingresso ao mercado de trabalho está alterando o nível de ocupação e contribuindo para a redução gradual da desigualdade. Movido pelos programas de transferência de renda, o País está menos desigual, mas não de forma homogênea - a desigualdade aumentou em São Paulo e caiu de forma substancial no Maranhão, por exemplo.

A taxa de pessoas que não sabem ler nem escrever caiu lentamente desde o início do governo Lula - apenas 0,5 ponto porcentual, atingindo 10,2%. E há 38 milhões de brasileiros com menos de quatro anos de instrução.