Título: Na miséria da palafita, aparelhos de DVD e som
Autor: Tereza, Irany e Rodrigues, Karine
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2006, Nacional, p. A20

Maria Cristina Mendes da Silva começou a receber o Bolsa-Família no início do ano, depois de quase 3 anos de espera. Há 6 anos moradora de palafita na Favela Abençoada por Deus, no Recife, praticamente dentro do Rio Capibaribe, seu barraco retrata a um só tempo a miséria em que vive e a sua ascensão como consumidora.

No início de uma gestação de risco - aguarda o quarto filho -, ela mente para os vizinhos o valor que ganha do governo. 'Se não (mentisse), era gente na porta o tempo inteiro pedindo', disse ela, que recebe R$ 80 mensais, mas diz só ganhar R$ 15. 'Tem gente que gosta de se escorar.'

Na sala de piso de madeira cheio de buracos e fendas que deixam entrever, embaixo, a margem do rio transformada em depósito de lixo, destaca-se um aparelho de DVD que ela comprou com o dinheiro do Bolsa-Família e faz a alegria dos filhos Rodrigo (9), Raíssa (5) e Raiane (1 ano e 8 meses). 'É o consolo dos meninos. Eles passam o dia assistindo (os DVDs piratas, que comprou a R$ 5 cada) e eu controlo mais.'

No último período de chuvas fortes, a Defesa Civil condenou seu barraco. Independente do aviso, ela aproveitou o dinheiro do programa para ampliar o barraco. Fez as compras à prestação, no cartão de crédito da vizinha. 'Não tenho para onde ir.'

O marido ficou desempregado pouco depois da chegada do Bolsa-Família e ela explica que a TV, o aparelho de som e o fogão foram adquiridos ainda com o salário dele.