Título: Diferença social ainda é uma das maiores
Autor: Tereza, Irany e Rodrigues, Karine
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2006, Nacional, p. A20

O Brasil está menos desigual, mas ainda tem um dos maiores índices de desigualdade entre países emergentes. Pelo Índice Gini, tabulação internacional que varia de 0 (igualdade absoluta) a 1 (total desigualdade), a posição do País vem melhorando ano a ano, num ritmo considerado bom pelos especialistas. 'A queda na desigualdade caminha na direção correta, mas poderíamos estar em passos até mais acelerados se isto viesse acompanhado de mais desenvolvimento e crescimento econômico', avalia André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Francisco Ferreira, do Banco Mundial, considera 'excelente' o ritmo brasileiro e acha que se deve a 3 fatores: programas de transferência de renda, aumento de escolaridade e renda no mercado de trabalho e convergência das rendas nas áreas urbanas e rural. 'Ainda não sabemos como, mas o hiato entre a agricultura e a área urbana está diminuindo em renda. Talvez pela explosão do agronegócio ou pelo aumento das exportações ou pela reforma agrária. O fato é que está ocorrendo.'

Em 2005 os trabalhadores tiveram o primeiro aumento real de renda depois de oito anos de queda: 4,6% em relação a 2004, o que elevou a renda média mensal para R$ 805. Mas não foi suficiente para anular o baque dos dois primeiros anos do governo Lula ou retornar aos R$ 833 de 2002. Na comparação com 96, ainda acumula perda de 15,1%.

A compensação foi a renda ter crescido mais em 2005 para a metade dos trabalhadores que ganha menos (6,6%), o que contribuiu para diminuir a concentração de renda, embora ela ainda seja uma das mais altas do mundo. Pelo levantamento do IBGE, 10% da população ocupada no País apropriou-se de 47,1% de toda a remuneração gerada pelo trabalho. No outro extremo, os 10% com os menores rendimentos representam apenas 1,1% das remunerações. 'Está havendo uma desconcentração gradual na distribuição de renda. Pequena, mas seguida. É uma tendência de queda constatada de 1993 a 2005', explica a técnica do IBGE Vandeli Guerra, analista da pesquisa

'A queda no rendimento foi o preço pago pelas bravatas do governo Lula no primeiro ano de gestão', argumenta Urani. 'O crescimento, no ano passado, se deu sobre um patamar muito deprimido e não recompôs os ganhos anteriores.'