Título: Senado chama Okamotto para falar de quitação de dívida
Autor: Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2006, Nacional, p. A7

A quase três semanas das eleições, a oposição deu a última cartada no Senado para tentar desgastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, sem maioria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o governo sofreu duas derrotas seguidas. Por 11 votos a 3, a oposição aprovou convite ao presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, para que explique o pagamento de dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. ¿Isso é mais uma etapa do processo eleitoral¿, reagiu a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), antes de Eduardo Suplicy (PT-SP) votar a favor.

O PSDB e o PFL conseguiram também aprovar pedido à ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, para que preste contas dos cartões de crédito corporativos usados para pagamento de gastos da Presidência. O requerimento foi feito pelo senador Álvaro Dias (PMDB-PR).

Contrariado, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), vai recorrer à Mesa Diretora para tentar anular a votação. Ele alega que a decisão foi tomada sem a presença mínima exigida de 12 senadores e que não é prerrogativa do Senado fiscalizar as ações administrativas do governo, mas do Tribunal de Contas da União.

¿Isso é mais uma disputa eleitoral que se extinguirá em 1º de outubro, quando o presidente Lula ganhar no primeiro turno¿, apostou Jucá, que protestou durante a votação conduzida pelo presidente da CCJ, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA): ¿É uma maluquice!¿ Segundo o líder, o governo não pode revelar ao Senado informações sigilosas de autoridades e empresas que prestam serviço à Presidência.

Sozinho para defender o governo - até mesmo Ideli já tinha saído da sala -, Jucá tentou impedir a aprovação do requerimento pedindo que a votação fosse nominal, com cada senador declarando seu voto. ACM negou o pedido e promoveu votação simbólica, sem declarações de voto. O presidente da CCJ ainda repreendeu Jucá quando o senador Sibá Machado (PT-AC) apareceu na sala da comissão. Na tentativa de manter a reunião esvaziada, Jucá fez sinal para o petista ir embora. ¿Isso, não! Não!¿, gritou ACM, irritado. A presença de Sibá na CCJ só ajudaria a oposição a reforçar o comparecimento à sessão.

ARGUMENTO

Para aprovar o convite a Okamotto, a oposição se mobilizou para ter presença na CCJ e teve apoio de Suplicy. ¿Acredito em Okamotto e ele só vai reiterar o que disse à CPI¿, observou o petista. Autores do requerimento, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), e o líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM), alegaram que Okamotto pode ser processado por perjúrio se ficar provado que mentiu à CPI dos Bingos.

Em seu depoimento, Okamotto assumiu que pagou a dívida de Lula com dinheiro do próprio bolso, mas afirmou que o presidente não sabia de nada. Só que, em entrevista ao Jornal Nacional, já como candidato à reeleição, Lula contou que teria dito a Okamotto: ¿Se você quiser, que pague. Mas eu não devo nada.¿ Essa declaração reforçou a impressão de que Lula sabia sim da dívida.

¿Um advogado maldoso pode dizer que o presidente nomeou Okamotto (para o Sebrae) para pagar a dívida¿, disse Virgílio. ¿Não me espantarei um pingo se ele não aceitar o convite, pois como não é CPI pode recusar.¿