Título: 'Povo quer mesmo é trabalho', pede cardeal Hummes
Autor: Arruda, Roldão e Menocchi, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2006, Nacional, p. A8

O cardeal Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, disse ontem que a melhor maneira de combater a exclusão social não é recorrendo a programas assistencialistas, mas criando postos de trabalho. "O Bolsa-Família é uma das coisas boas deste país e deve continuar, mas não podemos ficar só nisso", afirmou. "O programa deve ser encarado como emergência para socorrer quem passa fome, mas o que o povo quer é trabalho."

O cardeal fez as afirmações durante a homilia da missa que, às 7 horas, na Catedral da Sé, marcou o início das manifestações do Grito dos Excluídos em São Paulo. Organizado pelas pastorais sociais da Igreja Católica, com o apoio de sindicatos e movimentos sociais, o Grito mobilizou milhares de pessoas pelo País em protestos contra o desemprego e a corrupção.

D. Cláudio disse que é preciso reforçar a luta contra a corrupção, citando sanguessugas e mensaleiros; e recomendou à população que analise com cuidado os nomes dos candidatos nas eleições: "Estamos diante de uma oportunidade imperdível de fazer o Brasil avançar."

Em Curitiba, o bispo-auxiliar Ladislau Biernaski também falou aos manifestantes sobre o momento político. "Protestamos contra a corrupção e a impunidade", disse ele.

COTAS

Ainda em São Paulo, após a missa, os manifestantes se juntaram a outros grupos na Praça João Mendes, no centro, e de lá marcharam por duas horas até o Monumento à Independência, no Ipiranga. Eram 10 mil pessoas segundo os organizadores e 4 mil na estimativa da Polícia Militar (PM).

Quase metade era de jovens ligados ao Educafro - rede de cursos pré-universitários organizada pela Igreja e voltada para jovens carentes da periferia da região metropolitana de São Paulo. Foram ao Grito para defender a aprovação pelo Congresso do projeto de lei que institui cotas para negros e índios em universidades públicas.

Em Aparecida, a manifestação diante do Santuário Nacional reuniu 5 mil pessoas - metade dos 10 mil que os organizadores esperavam. Em Brasília foram 500 pessoas, segundo a PM. Eles se concentraram diante da catedral e percorreram a Esplanada dos Ministérios.

A representante do Movimento dos Sem-Terra (MST) no ato da capital federal, Marina dos Santos, disse que a maioria dos militantes da organização votará pela reeleição de Lula, mas que desta vez, ao contrário de 2002, será um voto crítico. Justificou dizendo que os sem-terra consideram "decepcionante" o desempenho do governo na reforma agrária.

No Rio, cerca de 100 manifestantes quiseram se juntar à parada do Dia da Independência, mas foram impedidos pela PM.