Título: Fim do voto secreto será 'festa da burrice e da submissão'
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2006, Nacional, p. A9

Defensor da manutenção do voto secreto para a escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), classificou de "burro" o texto aprovado na terça-feira, em primeiro turno, que institui o voto aberto em todas as votações do Congresso.

Para ele, o Legislativo perderá a independência e ficará sujeito à imposição do governo se os parlamentares abrirem mão do voto secreto para a escolha das Mesas Diretoras. "Foi a festa da burrice e da submissão", diz Aleluia nesta entrevista. "O texto não passará no Senado."

Qual será o impacto do voto aberto na eleição para os presidentes da Câmara e do Senado e para os demais cargos da Mesa Diretora?

Os Parlamentos do mundo adotam o voto secreto para evitar a influência externa. O Parlamento inglês, o mais insuspeito do mundo, com mais tradição, adotava o voto aberto até 2001, mas concluiu que, ainda que no parlamentarismo, havia influência do Executivo na escolha do presidente da Casa e adotou o voto secreto. Imaginem no presidencialismo, com a influência desmedida como é no Brasil. Muitas vezes é uma influência antinatural e criminosa, como foi a influência do mensalão e das nomeações, do aparelhamento do Estado. Se o Senado referendar essa prática, o governo usará todo o seu poder para eleger um aliado sem ouvir ninguém.

O eleitor não tem o direito de saber de todas as ações de seu representante no Congresso?

Todas as ações que interessarem ao eleitor. O eleitor tem que escolher um representante confiável. É o princípio da democracia representativa. Quando os votos forem de interesse do eleitor, ele tem o direito de saber. Quando forem da organização da Casa, o eleitor pode saber, eu sempre votarei aberto. Tenho ação política distinta, mas a maioria dos deputados é dependente de governo. Aprovou-se uma burrice porque tira a independência da Casa. Foi a festa da burrice e da submissão.

Não é relevante para o eleitor acompanhar as negociações, mesmo para a eleição das Mesas?

É relevante acompanhar a negociação, saber quem vota como. É importante que o eleitor saiba que a Casa vai ser dirigida de forma independente. São duas coisas a pesar: o voto ser aberto para o eleitor saber ou ser fechado para a Casa ser independente. O que é melhor para o eleitor? O Parlamento independente.

O voto secreto não seria passaporte para a traição numa negociação?

O voto secreto é um passaporte para a independência do Poder Legislativo, sobretudo em uma eleição da Mesa Diretora.