Título: Chefe da 'Abin do PT' admite que negociou dossiê
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A4
Em depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, o petista Jorge Lorenzetti, ex-chefe do serviço de inteligência da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a responsabilidade pela operação destinada a comprar e divulgar um dossiê contra os tucanos montado pelos empresários Luiz Antônio e Darci Vedoin, donos da Planam e chefes da máfia dos sanguessugas. Lorenzetti isentou o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que se afastou da coordenação da campanha por causa do escândalo produzido pelo episódio, mas disse que os dois emissários que enviou a Cuiabá para encontros com Luiz Antônio tiveram as passagens pagas pelo PT.
Os emissários são os também petistas Expedito Veloso e Gedimar Passos, que fizeram três reuniões com o empresário. Churrasqueiro preferido de Lula e ligado ao ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, Lorenzetti negou que nesses encontro tenha negociado dinheiro em troca do dossiê.
Ele disse que os encontros ocorreram por orientação do coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda, afastado por conta desse episódio. Lorenzetti disse à PF que, antes de estabelecer contato com os petistas, os Vedoin tinham sido procurados pelo empresário Abel Pereira, supostamente interessado em comprar o dossiê que acabaria encomendado pelo PT. Abel Pereira é apontado pelos Vedoin como intermediário da liberação de verbas para a compra de ambulâncias nos tempos em que o Ministério da Saúde era comandado por Barjas Negri - braço direito de José Serra na pasta e depois seu sucessor quando saiu para disputar a eleição presidencial de 2002 .
Nervoso após mais de três horas de depoimento, Lorenzetti não quis falar com a imprensa. O advogado Aldo de Campos Costa, que o acompanhou no depoimento, disse que o objetivo das viagens dos emissários foi verificar a autenticidade do dossiê e a importância do material para a campanha de Mercadante. Ainda segundo o advogado, Lorenzetti contou tudo o que sabia sobre o episódio e não foi indiciado porque, segundo garante, ele não cometeu nenhum crime.
EXPEDITO
O ex-diretor de gestão e risco do Banco do Brasil Expedito Veloso, confirmou em seu depoimento à PF que se reuniu duas vezes com os Vedoin para tratar do dossiê. Também confirmou que acompanhou a entrevista dos donos da Planam à revista Isto É, na qual tentaram relacionar Serra à máfia dos sanguessugas.
Demitido do cargo por seu envolvimento no escândalo, Expedito repetiu o argumento de Lorenzetti e disse que suas idas a Cuiabá foram para conferir a autenticidade do dossiê . 'Fui lá exercer uma função técnica', disse ele à saída. O depoimento durou seis horas e, para a PF, foi improdutivo porque pareceu se encaixar numa estratégia do PT para evitar imputações criminais contra os envolvidos.
Expedito confirmou que, no material que compõe o dossiê, havia depósitos, cujo montante não soube precisar, em contas de pessoas indicadas por Abel Pereira durante a gestão de Serra na Saúde. Até a 0h15 de hoje, o ex-chefe de gabinete do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, acusado de oferecer o dossiê à revista Época e depois de participar da negociação com a IstoÉ, continuava depondo.