Título: Governo usa tese do golpismo para isolar presidente da crise
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A4
O petista Jorge Lorenzetti, que participou da negociação de entrevista do empresário Luiz Antônio Vedoin à revista IstoÉ, depôs ontem à Polícia Federal e apresentou versão que conflita com declarações de outros acusados e com dados objetivos da investigação.
Os depoimentos dele e de Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil envolvido no caso, isentaram pessoas próximas ao presidente Lula, como Freud Godoy, assessor especial que trabalhava a alguns metros do gabinete presidencial, atuava na campanha da reeleição e foi quem coordenou a ação de intermediários presos com R$ 1,75 milhão em dinheiro. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, afastado da campanha de Lula, também foi poupado por Lorenzetti - mas a PF quer ouvi-lo, por considerar que pode ajudar a elucidar o caso.
Em sintonia, ministros de Lula deram declarações minimizando a importância do dossiê Vedoin e da negociação da entrevista. Tarso Genro falou em golpismo e culpou a imprensa, a oposição e as 'elites' pela crise. O presidente seguiu em linha semelhante. 'É preciso ficar de olho, porque tem gente neste país que ainda não aprendeu a viver na democracia', disse Lula, em encontro com prefeitos. 'Estão ansiosos para ver se existem outros meios, que não da relação democrática da eleição, para evitar que as pessoas dirijam este país'.
O delegado Edmilson Pereira Bruno, que prendeu os intermediários com o dinheiro, disse ter ouvido de Gedimar Passos e Valdebran Padilha que estavam negociando com Vedoin um dossiê mais amplo do que o material apreendido. Seriam mais de 2 mil páginas, com informações que comprometeriam o próprio PT e outros partidos com a venda de ambulâncias superfaturadas.
A PF abriu novas frentes de investigação. Os agentes apuram se os dólares destinados a Vedoin chegaram ao País em um jatinho. Também trabalham com a possibilidade de Expedito Veloso ter usado seu cargo no BB para violar o sigilo bancário de Abel Pereira, dando munição a Vedoin para apresentá-lo como intermediário de um esquema que envolveria o ex-ministro Barjas Negri.