Título: Identificar origem do dinheiro é questão de honra, diz Bastos
Autor: Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A5

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem que é 'ponto de honra' para a Polícia Federal, o governo e o presidente Lula identificar a origem do R$ 1,75 milhão apreendido com os acusados de negociar o dossiê Vedoin.

Ele garantiu que a PF apresentará os responsáveis, mas não disse se antes ou depois da eleição. Ao contrário, afirmou que o calendário eleitoral não pode prejudicar a investigação. Bastos repetiu que a PF está empenhada no caso, mas não deu nenhuma informação nova sobre a apuração.

'O presidente Lula me recomendou novamente hoje (ontem) de manhã. É um ponto de honra para ele a solução disso. Vamos resolver. A PF vai decifrar o caso, com o Ministério Público. São duas instituições que estão trabalhando de maneira nova, independente. Não há influência política', disse Bastos, após o encerramento da Assembléia-Geral da Interpol, no Rio. A cerimônia, da qual também participou o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, foi fechada à imprensa.

Mesmo sem informar avanços no rastreamento do dinheiro, o ministro considerou o caso 'praticamente esclarecido', já que 'a cadeia causal de autoria já foi desvendada, até por confissão das pessoas'.

Segundo Bastos, a PF já acionou o Federal Reserve, o banco central americano, e outras instituições internacionais para colaborarem na investigação da origem dos dólares, que entraram ilegalmente no País.

Segundo o ministro, provavelmente os acusados serão indiciados por crime contra o sistema financeiro, mas voltou a pedir mais tempo para conclusões. Ele reconheceu que a identificação das contas de onde saíram os reais apreendidos é simples, mas, mesmo assim, não vê demora no trabalho da PF.

'É um ponto de honra para a investigação, inclusive para o governo, não deixar poeira embaixo do tapete, desvendar a questão definitivamente. Compreendo a excitação das pessoas que querem uma solução rápida. Nós também queremos. Mas a rapidez não pode vir em prejuízo da competência e da seriedade da investigação', disse o ministro.

Demonstrando impaciência, Bastos voltou a pedir crédito para a PF. 'Se não fosse o trabalho da PF abortando a compra do dossiê, isso teria ficado obscuro, inexplicado pelo resto do tempo', argumentou.

Bastos negou que a PF esteja protelando as investigações por causa da proximidade do pleito. 'A gente não pode fazer disso uma bandeira nessa atmosfera incendiada da última semana da eleição. É preciso trabalhar com paciência e competência, como a PF tem feito.'

Ele atribuiu à 'necessidade de gerar notícia' as especulações de que o delegado Edmilson Pereira Bruno, que comandou a operação que prendeu duas pessoas e apreendeu o dinheiro em São Paulo, foi afastado do caso por retaliação.

'Esse inquérito é presidido por um delegado de Cuiabá. O delegado que atendeu à ocorrência e fez a brilhante operação de prender as pessoas era o delegado de plantão. Quando ele termina o plantão, ele sai, não fica vinculado ao inquérito. Isso é uma questão interna da PF. Não se pode querer descobrir intenções em tudo o que se faz', queixou-se.