Título: Dossiê era contra todos os partidos, inclusive o PT
Autor: Baraldi, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A6

O dossiê que seria vendido com supostas denúncias contra candidatos tucanos tem cerca de 2 mil páginas e inclui informações que envolvem partidos políticos de 'A a Z', incluindo o PT, afirmou ontem o delegado da Polícia Federal em São Paulo Edmilson Pereira Bruno. Segundo ele, os R$ 750 mil encontrados com o petista e ex-agente da PF Gedimar Passos seriam para pagar o documento. Nos papéis, disse Bruno, havia informações de 'todos os partidos, inclusive do PT', conforme Gedimar esclareceu quando interrogado, na sexta-feira da semana passada.

De acordo com o delegado, o material apreendido com fotos dos candidatos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin em cerimônias de entrega de ambulâncias que teriam sido negociadas pela máfia dos sanguessugas era apenas 'uma isca' de todo o material. O R$ 1 milhão apreendido com Valdebran Padilha, empresário e amigo da família Vedoin, era um sinal para conseguir todo o material, da família Vedoin.

Valdebran e Gedimar foram presos no Hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. O material deveria custar R$ 2 milhões, mas, segundo Gedimar, o PT não havia conseguido a quantia.

'O PT estava interessado não era nas fotos e nas fitas, já de domínio público. Existia um dossiê que não falava só da operação sanguessuga, mas outras coisas que envolviam todos os partidos, inclusive o próprio PT', explicou Bruno, na superintendência da PF em São Paulo, ontem à tarde.

Segundo o delegado, o PT comprava informação contra o próprio partido e em nenhum momento Gedimar falou em PSDB. 'Era um pacote de denúncias', disse. Contou ainda que toda a negociação teve início quando Luiz Antônio Vedoin e seu pai, Darci, estavam presos na Polinter em Cuiabá. A PF ainda investiga onde estão as 2 mil páginas, desaparecidas depois da operação. Bruno disse que Valdebran estava em São Paulo 'só para concretizar o negócio'.

Valdebran chegou a pensar em desistir, mas o ex-analista de risco e mídia da campanha do presidente Lula, Jorge Lorenzetti, que se disse chefe de Gedimar, pediu-lhe paciência. 'Ele disse: 'Eu ia receber o dinheiro do Gedimar, ligar para o Luiz (Vedoin) e falar ok, o dinheiro existe'', afirmou Bruno.

Na madrugada de sexta-feira, por volta das 3h30, os policiais chegaram nas proximidades do hotel e só entraram em ação às 6 horas. Foi quando Valdebran entregou Gedimar, no quarto ao lado. Durante as diligências, Bruno afirmou que o empresário recebeu ligações de Vedoin para saber se estava tudo certo. Sem saber da presença da PF, Valdebran disse que sim. Em depoimento, Valdebran recebeu quatro ligações de Vedoin. Para Bruno, Gedimar 'é a pessoa-chave' do caso.