Título: Cunhado de Vedoin montou DVD contra tucano com R$ 80
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A10

A Polícia Federal incluiu ontem um novo personagem na trama do dossiê contra José Serra (PSDB): Ivo Marcelo Rosa Spínola, cunhado do empresário Luiz Antonio Vedoin, líder da máfia dos sanguessugas. Foi ele, segundo a PF, quem providenciou o DVD com imagens do tucano numa festa de entrega de 40 ambulâncias para prefeituras de Mato Grosso, em Cuiabá, em maio de 2001.

Ivo Marcelo trabalhou cerca de 8 anos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Mato Grosso. De 1995 a 2000 foi coordenador de produção e suporte e de 2000 a 2003, secretário de informática. A PF suspeita que ele é um dos idealizadores do esquema sanguessuga, a partir do acesso que tinha a dados pessoais de parlamentares e prefeitos cadastrados na Justiça. Ele não foi encontrado ontem para falar sobre o caso.

A investigação revela que no início da tarde de quarta-feira da semana passada, dia 13, Ivo levou uma fita VHS com 22 minutos de imagens até a Rua Rubi, 7, no Bosque da Saúde, endereço da Agência de Monitoramento de Informações, conhecida pela sigla AFPL. Ele pediu a conversão da fita para DVD.

Durante a edição, Ivo mandou cortar trechos que não lhe interessavam. Estava apressado. A um funcionário da AFPL disse que 'o avião ia sair às 16h30'. A PF está convencida de que o cunhado de Vedoin levou o material até o aeroporto de Cuiabá na mesma quarta-feira e o entregou ao empreiteiro Valdebran Padilha, filiado ao PT.

Valdebran acabou preso em São Paulo na madrugada do dia 15, com o advogado e petista Gedimar Passos. Na tarde do dia 15, Luiz Antônio e seu tio Paulo Roberto Trevisan foram presos em Cuiabá. Segundo a PF, os dois preparavam-se para embarcar para São Paulo às 23h30 para negociar a venda do material com Valdebran e Gedimar. Foram apreendidos uma fita de vídeo, um DVD, uma agenda e seis fotos.

RECIBO SIMPLES

O DVD custou R$ 80 para a quadrilha que iria faturar R$ 1,75 milhão dos petistas. Na AFPL, quarta-feira, Ivo pediu apenas um recibo simples e foi embora. Não deixou cópia. No início da semana, Arnaldo Souza Marques, sócio-diretor da agência, tomou um susto quando viu na imprensa aquele material que arquivou em DVD.

'Aqui a gente trabalha com informação, não temos nenhum interesse partidário', afirma Marques, que fundou a AFPL em 1989 e hoje mantém acervo com 2,7 milhões de documentos referentes a noticiários de TV, rádio, mídia escrita e sites. Entre seus clientes estão empresas públicas e políticos.

'Esse Ivo veio aqui, pediu o serviço e nós o atendemos como a qualquer pessoa', anotou Márcio Hermenegildo de Almeida, sócio de Marques. 'Trouxe o material bruto e pediu a conversão. Não queremos saber o conteúdo. Se o cara fala que é bonito é bonito, se fala que é feio é feio. O que eu não sabia é que iriam vender o DVD de R$ 80 por quase R$ 2 milhões.'