Título: Presidente sugere que oposição é golpista
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A12

Sob impacto da crise política aberta pelo escândalo do dossiê Vedoin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu ontem que a oposição a seu governo tem espírito golpista e, pela primeira vez desde que as pesquisas delinearam seu favoritismo, admitiu a hipótese de que a eleição seja decidida no segundo turno.

'É preciso ficar de olho, porque tem gente neste País que ainda não aprendeu a viver na democracia. Tem gente neste país que falou: 'Vamos deixar o operário entrar, ele não vai dar certo e depois a gente volta com toda a força.' Só que os números mostram que nós demos mais certo do que eles e eles agora estão ansiosos para ver se existem outros meios, que não é da relação democrática da eleição, para evitar que as pessoas dirijam este país', disse Lula, ao discursar durante encontro com cerca de 500 prefeitos num hotel.

No evento, foi entregue a Lula um manifesto de apoio à reeleição assinado por 2.135 prefeitos de vários partidos, inclusive do PFL, PSDB e PDT, que fazem oposição ao governo. Ao agradecer aos prefeitos, o presidente considerou a possibilidade de segundo turno: 'Eu quero ver se no dia 2 de outubro a gente pode se encontrar pra dizer esse resultado ou na semana seguinte. Ou, se não der no primeiro turno e tiver segundo turno, não tem nenhum problema, porque o mundo é assim mesmo e é bom que tenha dois turnos. Que nós vamos ganhar, eu tenho certeza.'

Lula disse ainda querer saber de onde veio o dinheiro apreendido com petistas, que seria destinado a pagar o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa que coordenava a máfia dos sanguessugas. Afirmou que a investigação da Polícia Federal deve apurar isso e não informou se entrou em contato com algum dos envolvidos - com os quais mantém relações pessoais - para questioná-los sobre o assunto.

Lula começou sua fala de improviso, avisando que ia se tranqüilizar porque, em telefonema pela manhã, sua mulher lhe pediu que não ficasse nervoso nem ofendesse alguém. Mas, logo depois, com voz exaltada, ao citar o dossiê contra os tucanos, afirmou que 'é o maior interessado em apurar esse negócio do dossiê' e chamou de 'bandidos' os que foram em busca dos documentos. 'Eu quero saber de onde veio o dinheiro, sim; eu quero saber toda a tramóia que houve, mas sobretudo eu quero saber que diabo de conteúdo que há nesse dossiê, que pessoas cometeram a enroscada que cometeram. Que arapuca que é essa, em que as pessoas se meteram, se entrelaçaram por causa de um dossiê.'

Lula se disse também preocupado em esclarecer a origem do R$ 1,7 milhão que seria destinado à compra do dossiê. 'Eu preciso que a sociedade saiba de onde veio o dinheiro, quem deu o dinheiro, de onde veio, mas saiba o conteúdo do dossiê. Porque senão, se não tiver o conteúdo do dossiê, vai ficar tudo muito difícil. Porque, se esse dossiê não tiver nada, quem fez isso não é inteligência coisa nenhuma, é bem outra coisa. Pessoas que aceitam negociar com bandido, é deplorável. Se alguém botou pra vender uma informação, é porque é bandido. E quem compra vira tão bandido quanto ele. '