Título: Lula diz que gostaria de 'campanha com anjo, mas política não é assim'
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2006, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista, pela manhã, à Rádio CBN, chamou de 'imbecis, loucos e insanos' os petistas envolvidos no esquema para divulgar denúncias contra tucanos e defendeu a presença, em seus comícios, de citados em casos de corrupção, como o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).

'Gostaria de fazer uma campanha em que só tivesse anjo, puro, todo virgem, no meu palanque', disse. 'Mas a política não é assim, ela é como é, os seres humanos são como são, nascem com defeitos e virtudes.'

Na entrevista, Lula demonstrou tranqüilidade para comentar a proposta da cúpula da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de impeachment - 'as pessoas falam o que quiserem' - e o motivo de o País crescer menos que a Argentina - 'nenhuma economia está crescendo com a solidez da do Brasil, pois fizemos uma combinação de crescimento econômico com uma forte política social'.

Lula só demonstrou irritação ao ser indagado sobre a sua provável ausência no debate da TV Globo neste primeiro turno, argumentando que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu ao debate na eleição de 1998. 'Tenho escola e quase pós-graduação em debate. Não posso contentar a oposição. Se eu for para o segundo turno, faço debate diário, fico de 5 da manhã às 5 da madrugada do dia seguinte, gosto de debate. É tão democrático você me convidar como eu dizer que não vou', disse.

Numa justificativa da presença de antigos desafetos e de envolvidos em esquemas de desvios de dinheiro no seu palanque, Lula disse que não faz pactos com pessoas, mas com partidos. Ele alfinetou adversários, insinuando que muitos estão no mesmo nível moral de Jader, político que chegou a ser algemado em 2002, durante investigação de emissão de títulos da dívida agrária e fraude na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

'Se o PMDB tem o Jader Barbalho, o PFL, o Jorge Bornhausen, e o PSDB, o Tasso Jereissati, e, se um dia eu fizesse acordo com o PFL, viriam as pessoas do PFL', afirmou. 'Não me sinto constrangido.' Ele voltou a avaliar que os adversários querem melar o processo eleitoral. 'Eu não acho, eu vejo todo dia', disse. Depois, lembrou que o PT 'berrava e xingava' muito quando era oposição.

A uma pergunta se o escândalo do dossiê poderia mudar o quadro das pesquisas, que indicam sua vitória e m primeiro turno, Lula discordou. 'Não sei que estrago aconteceu. Sei que o estrago é a política brasileira e o comportamento ético que as pessoas esqueceram.' Lula tentou passar a versão de que os petistas envolvidos no caso do dossiê não são de seu círculo pessoal ou do comando do PT. Jorge Lorenzetti foi descrito como uma pessoa que 'não tinha participação no governo'.

WATERGATE

Já Freud Godoy, que foi segurança dele por 27 anos e exonerado por suposto envolvimento no caso, não foi citado. 'Essas pessoas estavam num momento de loucura, pois isso não fez parte das campanhas que o PT fez desde 1980. Acharam que eram espertas e poderiam descobrir a mina de Colombo, sem levar em conta que a mim não interessava nada. Não disputo a campanha de São Paulo.' (O presidente, aparentemente, misturou 'as minas do rei Salomão', das quais falou ontem, com 'o ovo de Colombo', e criou a 'mina de Colombo'.)

Ele rebateu declaração do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, que comparou o escândalo do dossiê ao Watergate, caso de espionagem que culminou na renúncia, em 1974, do presidente dos EUA, Richard Nixon. 'Não tem nada a ver com Watergate. O presidente do TSE falou isso num momento indevido.'