Título: Uma ajuda para o FMI
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2007, Notas e Informações, p. A3

Conhecido, e freqüentemente criticado, por distribuir conselhos a governos em todas as partes do planeta sobre como enfrentar com mais eficácia suas crises financeiras, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aguarda os conselhos de um grupo de sábios para resolver sua própria crise. Por ironia, o motivo pelo qual o FMI enfrenta um dos mais sérios problemas de sua história é que seus principais clientes, os países que no passado recente precisaram de sua ajuda financeira, não têm mais problemas. Devolveram ou estão devolvendo rapidamente o dinheiro que tomaram emprestado, e com isso o Fundo vai perdendo sua principal fonte de receita.

Até março, uma comissão de pessoas influentes do sistema financeiro internacional, constituída pelo diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, para examinar a situação da instituição e estudar mecanismos de financiamento sustentável no longo prazo, deverá apresentar suas conclusões e sugestões. Dela fazem parte personalidades como Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (o banco central americano), e o banqueiro Andrew Crockett, ex-presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, também conhecido como o banco central dos bancos centrais) e atual presidente do JP Morgan Chase International. Crockett é o presidente da comissão.

Em 28 de dezembro, o governo das Filipinas anunciou que acabara de quitar sua dívida com o FMI, no valor de US$ 219,9 milhões. É um valor pequeno se comparado com os empréstimos tomados por outros países em momentos de crise. Mas a decisão do governo filipino fez crescer ainda mais a lista dos países que, nos últimos dois anos, anteciparam a quitação dos empréstimos que tinham com o Fundo. Dessa lista, além das Filipinas, fazem parte Brasil, Argentina, Rússia e mais de uma dezena de países.

Desde 2005, esses países devolveram US$ 41 bilhões ao FMI. Hoje, a instituição tem para emprestar US$ 317 bilhões, mais o equivalente a US$ 62 bilhões em ouro. No entanto, como a economia mundial vai bem, sem riscos de crises financeiras no horizonte, há muito poucos interessados em ajuda financeira do FMI. Os empréstimos, por isso, não passam de US$ 19,5 bilhões.

É só desse volume de empréstimos que o Fundo obtém as receitas para sustentar suas atividades. Seu orçamento anual - que foi de US$ 876 milhões no último ano fiscal (os anos fiscais do FMI se encerram em abril) - é sustentado pelos rendimentos dos empréstimos feitos a países em dificuldades. No ano fiscal de 2006, os rendimentos cobriram as despesas e o resultado foi um superávit de US$ 166,8 milhões. Mas, já a partir do ano fiscal em curso, haverá déficit, que crescerá daqui para a frente. Para 2007, o déficit projetado é de US$ 88 milhões; em 2008, de US$ 211,4 milhões; e em 2009, de US$ 306,8 milhões.

Medidas administrativas começam a ser discutidas. Habituados a ganhar bem e a dispor de benefícios que superam os oferecidos por empresas privadas em qualquer parte do mundo, os funcionários do FMI estão preocupados. Redução de salários e cortes de benefícios - entre os quais o pagamento da educação dos filhos até 24 anos em qualquer universidade fora dos Estados Unidos - estão entre as medidas analisadas pela direção do Fundo. Redução dos quadros e dos gastos com viagens internacionais - os funcionários e familiares, estes no período de férias, viajam em classe executiva - também podem fazer parte do ajuste.

Mas nem isso será suficiente. O FMI precisa livrar-se da dependência dos rendimentos dos empréstimos que concede a países em dificuldades, pois estes estão desaparecendo do cenário financeiro internacional, e descobrir fontes de receitas de longo prazo, uma das quais pode ser a cobrança por serviços hoje prestados gratuitamente a países membros. Também pode transformar-se em fonte de receita a aplicação dos recursos do Fundo no mercado financeiro internacional.

Principal impulsionador de reformas nos países que sofreram crises financeiras a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, quando foi criado, agora é o FMI que precisa de reformas.