Título: União libera verba para reconstruir casas atingidas pelas chuvas no Rio
Autor: Brandão Júnior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2007, Metrópole, p. C3
As enchentes em Campos estão provocando atrasos em torno de duas horas e gastos adicionais nas viagens de ônibus e caminhões para o Espírito Santo e Região Nordeste do País. Com a tempestade, a principal ponte da cidade cedeu e o tráfego pesado, que passava por dentro da cidade, está sendo desviado para outras vias. Cerca de 70% do total de 5.718 desabrigados no Estado estão no município.
A Ponte General Dutra faz parte da BR-101, rodovia litorânea, uma das principais ligações com o Espírito Santo e o Nordeste. Segundo o comandante da Guarda Civil de Campos, Francisco Henrique Balbi, o tráfego para essas regiões pode ser realizado por rotas alternativas, como a BR-040 (Rio-Bahia) ou que passam por outras cidades. Essas rotas elevam em pelo menos 100 quilômetros a viagem. A Viação Itapemirim informou que uma viagem de São Paulo para Vitória, que normalmente durava 15 horas, estava sendo feita em pelo menos 17 horas, por conta dos problemas em Campos. A duração da viagem entre as capitais fluminense e capixaba aumentou de cerca de sete horas e meia para nove horas e meia. O governo municipal está em contato com o federal para discutir uma solução. Uma das alternativas é o uso de estrutura metálica.
Na BR-356, que liga Campos à região da Zona da Mata mineira, a enchente rompeu a rodovia. N.B.J.
O governo federal vai reconstruir as casas destruídas no Rio em razão das fortes chuvas que caem desde o fim de 2006 e financiará os gastos na infra-estrutura danificada. Um plano de ação será anunciado hoje, com o detalhamento das medidas. Os recursos serão liberados em, no máximo, 48 horas, via Caixa Econômica Federal (CEF), a partir da apresentação do diagnóstico da situação por parte das autoridades municipais e estadual.
Até o fim da tarde de ontem, 26 pessoas tinham morrido por causa das tempestades, 11 ficaram feridas, 5.718, desabrigadas e 6.473 foram desalojadas. Os bombeiros investigavam se outras duas mortes, em Campos dos Goytacazes, no norte do Estado, teriam sido provocadas pelas chuvas.
O problema atinge toda a região Sudeste do País. Até ontem, eram pelo menos 33 mortos em três Estados.Em São Paulo, foram registradas quatro mortes em janeiro e em Minas Gerais, outras três.
O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), disse ontem que o Estado vai receber recursos do governo federal por meio de uma Medida Provisória para recuperar as áreas atingidas pelas fortes chuvas no Rio, principalmente a Região Serrana, e dar assistência aos desabrigados e desalojados. Ele estima que a medida será editada em, no máximo, dois dias. Só o Estado precisará de R$ 35 milhões para reparo de estradas e pontes.
'Estamos enfrentando problemas sérios do ponto de vista financeiro no Rio de Janeiro', declarou o governador. 'Não tenho a menor dúvida de que o presidente da República e seus ministros, sensíveis ao problema do Rio, darão o apoio necessário por intermédio de uma medida provisória para suprir as necessidades do Estado.'
URGÊNCIA
O ministro da Integração Nacional, Pedro Brito, disse, após reunião com o governador, que já tem idéia do que é preciso ser feito para atender aos municípios da região com urgência. 'Queria aproveitar o resumo do governador para realçar um ponto importante que é a determinação do presidente Lula. A disposição do governo federal é dar atendimento às necessidades levantadas.'
Segundo o ministro, o secretário Nacional da Defesa Civil, coronel Jorge Pimentel, junto com todos os prefeitos fluminenses, fará hoje um levantamento das necessidades específicas de cada um dos municípios atingidos 'para que o governo federal possa fazer a alocação correta de recursos'.
'Já tem recursos liberados para atender as necessidades das pessoas desalojadas com colchonetes, cestas básicas e remédios. Temos agora que levantar as necessidades, separando aquilo que é obrigação do Estado, e dimensionar a necessidade de recursos dos municípios, casas que precisam ser reconstruídas, acostamentos que precisam ser recuperados.'
Até 30 de dezembro, já haviam sido liberados pelo governo federal R$ 63 milhões para problemas relativos a chuvas e estiagem em cidades no Sudeste brasileiro.
SOTERRAMENTO
O governador desembarcou de helicóptero em Nova Friburgo por volta de 15h30 de ontem. Ao lado do ministro, visitou o bairro Floresta, no distrito de Conselheiro Paulino, onde três crianças morreram soterradas depois que um barranco atingiu a casa onde moravam.
Do alto de uma encosta, inspecionou a área atingida e mostrou-se impressionado com os estragos causados pelas chuvas. No local, disse que tomaria providências.
TARDE DEMAIS
O pedreiro Fábio de Oliveira Silva, de 26 anos, ouviu a promessa feita pelo governador e disse baixinho: 'Tomar providências agora não adianta mais. Já morreram três crianças. Por que não fizeram isso antes? Sempre é assim'.
'Os ônibus também não passam por aqui', reclamou a costureira Josiane de Oliveira, de 34. Após a visita ao distrito de Conselheiro Paulino, Sérgio Cabral seguiu para a sede da Prefeitura de Nova Friburgo, onde foi recebido por um grupo de 20 moradores.
Eles reivindicaram melhorias nas localidades atingidas pelas chuvas. O governador foi até eles e afirmou que atenderá todos os pedidos.
CALAMIDADE
O estado de calamidade pública começará a ser decretado a partir desta semana. O governo estadual publicará os primeiros decretos, nos próximos dias, conforme chegarem as solicitações dos municípios. Na prática, os prefeitos declaram o estado de calamidade ou a situação de emergência, o governo estadual homologa e o federal reconhece, explica o secretário.
Para receber a verba, os municípios precisam contar com uma Coordenação de Defesa Civil. Mas pelo menos nove municípios fluminenses não contam com essa estrutura.
O secretário nacional da Defesa Civil também informou que a orientação é reconstruir as casas que foram destruídas em zonas fora de risco. 'Não colocamos (as casas) em áreas de perigo', declarou Pimentel. Segundo ele, dar suporte à população desabrigada e abrigá-la são os primeiros focos do plano de ação, seguido da reconstrução da infra-estrutura.
De forma geral, o secretário argumenta que a cada ano haverá 'surpresas com os eventos naturais', por conta das sucessivas mudanças climáticas no planeta. Ele citou como exemplo o ciclone que se espalhou pela costa sul de Santa Catarina em 2004, causando destruição de casas e transtornos à população local.