Título: Casos de morte violenta crescem entre mulheres
Autor: Rodrigues, Karine e Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2006, Vida&, p. A16

As mortes por causas violentas, que já provocaram uma diferença na expectativa de vida por gênero, com maior longevidade para o sexo feminino, está ampliando o alvo e apresentando tendência de aumento entre mulheres.

A proporção subiu de 4,38% em 2004 para 4,51% no ano passado. O Sudeste, com 6% de acréscimo, desponta com a única região brasileira onde o fenômeno vem se consolidando. Já os óbitos por homicídios, acidentes de trânsito e suicídios entre os homens apresentou uma queda de menos de 1%, redução que no grupo de 15 a 24 anos foi de 17,15%, mas em um período mais longo, de 2002 até o ano passado.

'Os dados reforçam questões já levantadas, como os diferenciais por gênero, além de uma tendência de queda no número de mortes violentas, porém, com uma tendência de aumento entre as mulheres. O fato preocupante é que, no País, a incidência de óbitos por causas violentas ainda é muito alta', observa Celso Simões, técnico do IBGE.

Para o antropólogo Gilberto Velho, a variação ainda é pequena para caracterizar aumento da vitimização de mulheres. 'A violência está generalizada. Homens e mulheres estão expostos à violência, principalmente nas áreas mais pobres, onde há luta entre gangues e confronto com a polícia.'

QUEDA POR SUBNOTIFICAÇÃO

Na análise de óbitos masculinos, de 15 a 24 anos, grupo etário mais afetado pelas mortes por causas externas, 19 das 27 unidades da federação apresentaram redução nas taxas de mortalidade.

As maiores quedas foram registradas em Estados do Norte: Roraima (-49,89%), Acre (-31,95%) e Rondônia (-24,50%). Porém, explica Simões, em todos eles há um grande problema de sub-registro de óbitos, fazendo com que o dado não seja tão confiável quanto os encontrados em regiões onde a cobertura de registro de óbitos é maior.

Pelo mesmo motivo, o aumento de 41,48% no Amazonas não tem muita representatividade, especialmente depois de o Estado ter apresentado uma redução de 61% entre 2002 e 2004.

Descontado o sub-registro de óbitos, o Estado de São Paulo acaba surgindo com a maior diminuição, de 22,08%. Já o Rio, onde há a maior incidência do País, com 227,4 óbitos por 100 mil habitantes, apresentou um aumento de 1,04% no indicador. 'O Rio não conseguiu realizar políticas articuladas entre as diferentes esferas de governo para tentar reverter a violência', diz Simões.

MISTURA DE SITUAÇÕES

O professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o sociólogo Gláucio Soares critica a divulgação dos dados de homicídios, suicídios e acidentes de trânsito agregados como mortes por causas violentas. 'Se torna um péssimo indicador porque mistura banana, elefante e pedregulho. É preciso saber detalhadamente o número de homicídios, suicídios e acidentes de trânsito ou do contrário de nada contribuirá para políticas públicas.'

O antropólogo Gilberto Velho também defende dados desagregados. 'A mulher pode ter sido mais vitimada pela violência urbana, ou porque dirige mais e está mais exposta, ou por causa da violência doméstica. É complicado analisar sem ter maiores informações.'