Título: Agronegócio ignora o dólar e bate recorde de exportações
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2007, Economia, p. B4

Apesar da valorização do real ante o dólar e da crise da agricultura, que obrigou o governo federal a renegociar o pagamento de R$ 20 bilhões de dívidas dos produtores, as exportações brasileiras do agronegócio em 2006 bateram recorde, atingindo US$ 49,42 bilhões.

Esse desempenho garantiu o superávit, também recorde, de US$ 42,7 bilhões na balança comercial do agronegócio. O setor foi responsável por 93% do superávit da balança comercial brasileira no ano passado.

O Brasil exportou seus produtos para 212 países e o maior comprador foram os Estados Unidos, seguidos dos Países Baixos, da China e da Rússia. Com a queda de 1,8% das vendas do grupo soja (grão, farelo e óleo), o aumento das exportações foi puxado pelos embarques de álcool, açúcar, café, suco de frutas, couro e produtos florestais. Até mesmo as vendas de carne, que foram afetadas pela identificação de focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e o temor da gripe aviária, apresentaram crescimento de 5,5% em 2006.

As exportações de álcool mais que dobraram, saltando de US$ 765,5 milhões, em 2005, para US$ 1,6 bilhão, em 2006, refletindo não só o incremento de 31% do volume embarcado, mas, sobretudo, dos preços, que aumentaram 60%. Mesmo com o recuo nas vendas, o complexo soja continuou liderando o ranking da balança agrícola brasileira, com vendas totais de US$ 9,3 bilhões.

Enquanto as exportações cresceram 13,4%, as importações tiveram expansão bem maior, de 31%, alcançando US$ 6,69 bilhões. O aumento das importações refletiu o crescimento sobretudo das compras de trigo (52%) devido à quebra da safra brasileira.

O ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, ressaltou que, apesar das dificuldades enfrentadas no ano passado, como os problemas fitossanitários e dólar mais baixo, o setor apresentou desempenho positivo. Ele disse que a taxa de cambio atual (em torno de R$ 2,15) não é a desejável , mas não foi um impedimento para o crescimento das exportações. ¿Apesar da valorização do real, o setor está conseguindo ser competitivo¿, disse o ministro.

Guedes Pinto destacou que as exportações cresceram 99% nos últimos quatro anos. O maior aumento foi das vendas do complexo sucroalcooleiro, que cresceram 243% no período. O ministro previu que 2007 será um ano positivo, com o aumento da renda dos agricultores.

Guedes Pinto estimou uma expansão das exportações entre 10% a 15%, lembrando que o clima está favorável à safra e há uma recuperação dos preços no mercado internacional, principalmente da soja, do milho e do algodão.

Ele também ressaltou que o mercado mundial de álcool tende a crescer e projetou, conforme levantamento da Conab, uma produção de grãos ligeiramente superior à colheita passada. A projeção para a safra 2006/2007 é de 121 milhões de toneladas. Com o cenário mais favorável, o ministro descartou uma renegociação generalizada das dívidas dos agricultores em 2007.

¿Não há justificativa para uma prorrogação generalizada de dívidas¿, disse o ministro.¿'Se houver necessidade de negociar alguma dívida, será muito localizada. Vamos analisar caso a caso.¿

O ministro lembrou que, no ano passado, o governo prorrogou o pagamento de R$ 20 bilhões e deu apoio à comercialização de 23 milhões de toneladas de grãos, o que custou R$ 3,28 bilhões.