Título: Itamaraty quer especialistas em países vizinhos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2007, Nacional, p. A11

A obsessão do governo Luiz Inácio Lula da Silva pela integração da América do Sul, sob liderança do Brasil, não se restringe mais às áreas da Esplanada dos Ministérios envolvidas com o comércio e as obras de infra-estrutura. Sob o comando do polêmico Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral das Relações Exteriores, dois organismos do Itamaraty vinculados às áreas acadêmicas e de pesquisa voltaram-se para a divulgação, no País, do conhecimento sobre a vizinhança e para a criação de centros de formação de intelectuais especializados em cada um dos países sul-americanos.

Os trabalhos estão sendo desenvolvidos desde 2004 pelo Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (Ipri), que já foi dirigido pelo próprio Pinheiro Guimarães, e pela Fundação Alexandre de Gusmão (Funag). Mas deverão ganhar maior fôlego neste segundo mandato do presidente Lula. Em seu discurso de posse, o presidente avaliou que a política externa voltada para a cooperação Sul-Sul foi 'motivo de orgulho pelos excelentes resultados' e declarou que 'o Brasil associa seu destino econômico, político e social ao do continente, ao Mercosul e à Comunidade Sul-Americana de Nações'.

A Funag trabalha especialmente para que universidades federais criem centros de estudos dedicados a um país da região ou que, pelo menos, estejam na órbita Sul-Sul - o receituário que rege a política exterior. A proposta é suprir o atual déficit no Brasil de profissionais preparados para formular análises mais substanciais sobre esses países. Trata-se de uma tarefa de formação de um aparato de inteligência que os Estados Unidos, por exemplo, executam há quase um século.

Até o momento, a Funag cooperou com a criação de um centro de estudos sobre a Argentina, pela Universidade Federal Fluminense, de outro sobre a Venezuela, pela Universidade Federal do Pará, e ainda de um terceiro sobre a África do Sul, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Funag e o Ipri atuam ainda em parceria com editoras brasileiras para a publicação, em português, de obras consideradas relevantes em seus países de origem. Entre eles, foram publicados História Contemporânea da Argentina, de Luis Alberto Romero, e A Economia Argentina, de Aldo Ferrer.

Na última semana de dezembro, o Ipri editou o volume 5 da revista DEP (Diplomacia, Estratégia e Política), que começou a ser editada em 2005. Todo volume da DEP traz artigos encomendados a intelectuais ou autoridades de cada um dos países da América do Sul. O de número 5 terá, entre outros, textos do economista Delfim Netto e do sociólogo argentino José Paradiso.

A revista DEP é publicada em português (6.000 exemplares), espanhol (5.000) e em inglês (3.000), com financiamento de empresas privadas interessadas especialmente no aprofundamento da atual política externa. Entre elas, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Por enquanto é distribuída apenas para políticos, acadêmicos, bibliotecas e entidades culturais do Brasil e do exterior. Mas é possível a aquisição por meio da página da Funag na internet (www.funag.gov.br).