Título: Abbas declara milícia do Hamas ilegal
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2007, Internacional, p. A12

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, declarou ontem ilegal a milícia do Partido Hamas na Faixa de Gaza, aumentando o impasse com o movimento islâmico. O porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum, qualificou o anúncio de Abbas de 'inapropriado e inútil'.

Desafiante, o Ministério do Interior, controlado pelo Hamas, anunciou que vai dobrar o tamanho da milícia (conhecida como força executiva) em Gaza, horas após Abbas anunciar que vai considerar a unidade ilegal.

Um porta-voz do ministério, Khaled Abu Hilal, informou que a força executiva (controlada pelo Ministério do Interior) passará a ter 12 mil membros (a guarda presidencial de Abbas tem 3.700 membros). Ele disse que a medida foi tomada 'por causa da deterioração da segurança' e das 'provocações da corrente golpista', acrescentando que ela não tem nenhuma relação com a decisão de Abbas. Segundo Hilal, a exigência do presidente 'é apressada e advertimos do risco de qualquer decisão, que será enfrentada com a força'. Pouco antes, Hilal havia acusado Abbas de 'dar luz verde aos que buscam derramar o sangue dos membros da força executiva'.

Abbas fez o anúncio dois dias após os membros da milícia do Hamas atacarem a casa de um comandante das forças de segurança na Faixa de Gaza. O general Mohamad Ghayeb - líder da Força de Segurança Preventiva, leal ao Partido Fatah, de Abbas - e sete seguranças foram mortos.

Abbas também anunciou uma reestruturação na direção dos serviços de segurança e exigiu do governo comandado pelo Hamas que sua força tome parte dos órgãos de segurança já existentes. 'Diante do contínuo caos na segurança e dos assassinatos de nossos combatentes... e diante do fracasso de atuais agências e aparatos de segurança em impor a lei e a ordem e garantir a segurança dos cidadãos, o presidente Mahmud Abbas decidiu fazer mudanças nas forças de segurança e em sua liderança', disse o gabinete de Abbas em um comunicado. O texto não dá detalhes sobre as mudanças.

'A força executiva, seus funcionários e membros são considerados ilegais e fora-da-lei e serão tratados como tal se não se integrarem imediatamente ao serviço de segurança oficial, como estipula a Constituição palestina', acrescentou o comunicado.

O Fatah e o Hamas vêm travando uma luta de poder desde que o grupo islâmico derrotou o partido laico nas eleições parlamentares há cerca de um ano. A disputa está centrada principalmente no controle sobre as poderosas forças de segurança palestinas. Depois que Abbas, eleito em uma eleição presidencial separada, tomou para si o controle das forças de segurança, o Hamas formou no ano passado sua própria unidade, conhecida como 'força executiva'. Membros da milícia do Hamas são visíveis em toda Gaza e constantemente entram em choque com as forças de segurança pró-Fatah.

Abbas concordou nos últimos meses integrar a milícia do Hamas às forças de segurança, mas não houve nenhum progresso nessa direção. Os dois grupos também firmaram vários acordos de trégua, mas nenhum foi respeitado. Mais de 20 pessoas foram mortas na onda de violência entre facções, iniciada em dezembro após Abbas convocar eleições antecipadas para tentar desbloquear a crise político-financeira. Fracassaram recentes negociações para criar um governo de união nacional, que permitiria o envio da ajuda internacional.

O ataque de quinta-feira contra a residência do comandante da Fatah em Gaza foi a batalha mais sangrenta desde o começo do impasse. As Brigadas Mártires de Al-Aqsa - um grupo militante ligado ao Fatah - ordenaram ontem o fechamento de lojas e convocaram uma greve em Hebron, Cisjordânia, em protesto contra os assassinatos de militantes em Gaza. Também na Cisjordânia, homens armados seqüestraram ontem dois funcionários do Hamas em incidentes separados. Um deles foi libertado horas depois.