Título: Em um ano, trabalho e recuperação da auto-estima
Autor: Bovo, Luís Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2007, Vida&, p. A18

A Fazenda da Esperança foi criada em 1983. Trata-se de uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, que se dedica ao tratamento de dependentes químicos entre 15 e 45 anos. Os centros funcionam em áreas rurais doadas, seja pela Igreja, particulares ou pelo Estado.

Hoje, segundo frei Hanz Stapel, presidente da instituição, há 24 áreas no Brasil e mais 5 no exterior sendo oferecidas para se tornarem centros de recuperação. Por conta disso, ele embarca neste mês para a Itália e a Colômbia, países que querem ter uma filial da fazenda.

O tratamento dura um ano e se baseia na recuperação da auto-estima dos usuários de drogas por meio da espiritualidade, da convivência em comunidade terapêutica e do trabalho, sem uso de remédios. Os dependentes vivem em casas, em grupos de 12 a 14 pessoas. Cada casa tem dois coordenadores, normalmente os que estão há mais tempo na fazenda.

Todos lá trabalham. Existem fábricas de recuperação de plástico, de produção de água sanitária e açougues, além de plantação de mandioca, feijão e milho. Todas as unidades são auto-sustentáveis.

A seleção dos jovens é simples. Eles enviam uma carta relatando o interesse em se recuperar. Após a apresentação de exames médicos e de uma entrevista, são aceitos.

O tratamento é gratuito. A família apenas colabora na venda dos produtos confeccionados pelos dependentes.

Nos três primeiros meses de tratamento, eles ficam isolados e não recebem a visita de parentes. ¿É um período para a desintoxicação deles e também da família, para que as feridas comecem a ser fechadas¿, explica frei Hanz. Depois desse período, a participação da família é importante para a reinserção do dependente químico na sociedade.

Concluído o período de recuperação na fazenda, os dependentes são acompanhados também do lado de fora. Existem grupos formados por ex-usuários que passaram pelo centro de recuperação, chamados de GEV (Grupo Esperança Viva). Cada um deles é encabeçado por duas pessoas que já se submeteram ao tratamento. Eles fazem uma espécie de ponte entre a fazenda e os usuários que já saíram.

¿Acreditamos que os jovens se envolvem com drogas porque deixam de amar. Nós os ensinamos a amar novamente¿, afirma frei Hanz. Nascido na Alemanha, veio para o Brasil em 1972, onde estudou e se ordenou padre em 1979. Durante 12 anos, comandou a paróquia Nossa Senhora da Glória, em Guaratinguetá, até se desligar e passar a comandar a Fazenda da Esperança. Pertence à Ordem dos Frades Menores, a mesma de d. Cláudio Hummes e d. Aloisio Lorscheider.