Título: 'Não vamos ser surpreendidos'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2007, Cidades, p. C3
Se o crime organizado tivesse desafiado o governo José Serra - uma ameaça que foi identificada em dezembro -, teria esbarrado em planos de contingência, elaborados conjuntamente pelos titulares da segurança do atual governo e do anterior, de Cláudio Lembo. Esses planos tinham nível 1 (atenção), 2 (emergência) e 3 (alerta vermelho); se o crime organizado ordenasse ataques como os de 2006, as polícias paulistas abortariam as ações, garante o secretário da Segurança, Ronaldo Marzagão.
Essa antecipação seria possível graças ao emprego de inúmeras armas da inteligência policial. Os planos continuam sobre a mesa de Marzagão e podem ser reativados a qualquer momento. 'O governo não vai ser surpreendido', diz Marzagão. E desafia: 'Se o senhor for hoje ao metrô, vai encontrar lá policiais militares trabalhando para impedir operações de inquietação.' A 'operação de inquietação' a que se refere o secretário é a colocação de falsas bombas no metrô.
A inteligência simboliza os novos tempos preconizados para as polícias paulistas, sob o lema cunhado pelo secretário, que, por sinal, não anda armado: na medida do possível, 'a força será substituída pela inteligência'. A idéia é passar a elas o conceito de 'chegar antes de o crime acontecer'.
Isso importa em mudar a cultura policial. Para tanto será imprescindível a integração entre as Polícias Civil (32.777 homens) e Militar (93.372 homens), duas instituições que fazem questão de se manter separadas. Um primeiro passo será dar à PM um sistema de comunicação digital impenetrável pelos bandidos e, se possível, fazer com que a comunicação delas seja integrada.
O segundo objetivo a curto prazo da secretaria é interligar os sistemas de banco de dados com informações criminais, ferramenta fundamental para os diversos setores de inteligência. Será criado um centro de inteligência no gabinete do secretário que receberá informações dos órgãos policiais. Ele vai analisar, distribuir e trocar dados com órgãos de outros Estados e federais, mas não terá funções operacionais.
A meta de Marzagão para a criminalidade comum é ambiciosa. Quer diminuir roubos e furtos, que ainda ocorrem em números elevados, e ampliar a redução dos homicídios. Cauteloso, evita ser contundente em questões como o fim do bico dos policiais ('O desestímulo passa pela valorização salarial'). Por fim, manda um recado ao seu público interno. 'A polícia tem de saber que cortar na própria carne não é trair os companheiros, mas demonstrar transparência e respeitabilidade.'