Título: Usineiros afirmam que alta não será igual à de 2006
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2007, Economia, p. B1

Apesar da alta das últimas semanas, os usineiros garantem aos consumidores que o preço do álcool combustível não chegará aos níveis do ano passado. Na época, o preço médio do litro de álcool chegou a R$ 1,986 no mês de abril, o que tornou inviável o uso do combustível em alguns Estados.

Mas, se depender do ritmo das últimas semanas, não será difícil alcançar esses números. Só em São Paulo, o preço do álcool subiu 25% nos últimos 15 dias, segundo dados do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro).

'Alguns postos estão recebendo agora o combustível com o novo preço e ainda não o repassaram para o consumidor. O álcool mais barato em São Paulo deverá ficar em R$ 1,40', destaca o diretor do Sincopetro, Hélio Fiorin. A temporada de alta dos preços do combustível deve perdurar até abril, quando tem início a nova safra do setor sucroalcooleiro na região centro-sul do País.

CONTA

Se a promessa dos produtores não se confirmar, o consumidor deve verificar qual a melhor opção do mercado, diz o economista do Centro de Estudos de Finanças Pessoais e Negócios (Cefipe), Marcos Silvestre. Segundo ele, o álcool é mais vantajoso para o consumidor quando custa até 70% do preço da gasolina. Acima disso, prefira a gasolina, diz ele. 'Essa é a vantagem de ter um carro bicombustível.'

Nos postos, os consumidores já estão seguindo o conselho de Silvestre e, antes de abastecer o tanque do carro, fazem as contas na ponta do lápis. Mas, apesar da alta dos últimos dias, o álcool continuou tendo a preferência dos donos de carros bicombustível. 'Ainda é mais vantajoso que a gasolina', afirmou o motorista Dario de Almeida, de 45 anos.

No último abastecimento, ele encheu o tanque de seu Fox com álcool ao preço de R$ 1,196. Na sexta-feira, ele se assustou: o litro do álcool já havia saltado para R$ 1,399. 'É uma tremenda sacanagem. Daqui a pouco vou ter de andar a pé', reclamou ele, que usa o carro diariamente para visitar clientes.

O analista contábil Celso Antônio Pereira comprou um carro flex há seis meses e ainda está empolgado com a economia que tem feito com o combustível. 'Antes gastava R$ 60 em uma semana. Agora gasto R$ 40 para fazer o mesmo percurso.' Mas, apesar da preferência, ele não hesita em dizer que mudará de combustível se o preço do álcool alcançar 70% do valor da gasolina.

APAGÃO AÉREO

O diretor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, explica que, além de ser um período de entressafra, o apagão aéreo também contribuiu para a alta do combustível. Em dezembro, a demanda pelo produto ficou 20% acima do esperado, segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom).

Além disso, o mercado de carros bicombustível tem crescido a uma velocidade surpreendente. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os modelos flex responderam por 82% das vendas em 2006.

Os usineiros afirmam que estão preparados para atender à demanda cada vez maior pelo combustível sem qualquer tipo de problema de abastecimento. Segundo dados da Unica, a oferta de álcool na região Centro-Sul teve aumento expressivo na safra 2006/2007, diante da moagem recorde de cana-de-açúcar, de 371 milhões de toneladas - 10,1% acima da safra anterior.

Segundo dados da Unica, os estoques atuais de álcool nas usinas superam 4,5 bilhões de litros, para um mercado interno que ainda não atingiu 1,1 bilhão de litros por mês.

'Esse volume é mais que suficiente para garantir o abastecimento até o final de abril de 2007, especialmente porque a moagem de cana no Centro-Sul começa no início de abril.'

Para o futuro, Pádua lembra que várias usinas vão entrar em funcionamento nos próximos meses. Só neste ano serão 16 unidades e para 2008, mais 34. Há ainda cerca de 37 projetos de usinas que poderão sair do papel nos próximos anos, diz o executivo da Unica.