Título: Bolsa-Família deve continuar se expandindo
Autor: Lacerda, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2007, Nacional, p. A10

A bandeira Fome Zero do governo do presidente Lula ganhava a opinião pública internacional, em 2003, quando Lucila Maria dos Santos, mãe solteira, dois filhos, 28 anos, se candidatou a beneficiária do Bolsa-Família.

Lucila mora no bairro dos Coelhos, no Recife, área de criminalidade e pobreza, em uma pequena casa com cozinha, banheiro e dois quartos, sem janelas, em um espaço dividido com a mãe, Alzira Maria Amarante, 48 anos, o irmão, Wanderley Amarante, 16 anos, e os filhos Gabrielle Dayse, de 9 anos, e Dalton Gabriel, de 7. A moradia foi construída em área de invasão, há 30 anos, e deixada de herança pelo pai, pescador, morto em 1994.

Lucila está desempregada há mais de três anos e vibrou quando seu nome foi aceito e cadastrado no programa federal no segundo semestre de 2003. No primeiro ano do governo Lula, 3,6 milhões de famílias foram beneficiadas com o Bolsa-Família, que gradativamente, desde então, foi englobando os outros programas de transferência de renda já existentes. Em 2006, chegou à cobertura máxima prevista pelo Ministério de Desenvolvimento Social: 11,1 milhões de famílias. No segundo mandato, a meta do governo é ampliar o número de beneficiários.

Entre 2003 e 2006, 974 mil benefícios do Bolsa-Família foram cancelados ou bloqueados. Entre 2004 e 2006, 463 mil deixaram de se enquadrar na renda mínima de R$ 120 por pessoa/mês e outras 21 mil abriram mão voluntariamente porque melhoraram de vida. Lucila ainda não progrediu. E agradece a Deus por se manter no programa desde a sua implantação e sempre com o valor máximo, de R$ 95. O mínimo oferecido pelo programa são R$ 15.

¿Nossa única e exclusiva renda é o Bolsa-Família¿, afirma Lucila Maria, que se candidatou ao benefício através da agente comunitária de saúde Genilda Lima, que se condoeu ao ver o estado de necessidade da família. Lucila enumera, na sua moradia, os bens conquistados com o benefício. ¿Além da alimentação, foi com esse dinheiro que a gente comprou ventilador, geladeira, fogão.¿

Com segundo grau completo, carteira de trabalho onde consta passagem por organizações como Legião da Boa Vontade (LBV), ela também já trabalhou em uma loja de óculos como vendedora. ¿Meu currículo é bom, mas a falta de emprego é muito grande¿, lamenta ela, que vai sempre à agência de trabalho conferir as oportunidades. Desanimada, entrou em crise e tem acompanhamento de psiquiatras.

Em visita ao Recife, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, reforçou a preocupação com a necessidade de atualizar os valores do programa com base no índice inflacionário, para que não se perca o seu poder de compra. ¿Não é coincidência que o programa se concentre no Nordeste¿, afirma Rosani Cunha, da Secretaria de Renda e Cidadania do ministério. ¿O Nordeste é a região brasileira com o maior número de pobres.¿