Título: Sergio Cabral planeja governo pautado na austeridade fiscal
Autor: Rodrigues, Alexandre e Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2007, Nacional, p. A13
Sergio Cabral Filho (PMDB) assume hoje o governo do Rio com a responsabilidade de liderar a reação à crise de segurança pública e resolver a confusão administrativa e financeira deixada pelo casal Garotinho. O novo governador sobe as escadas do Palácio Guanabara com decretos já redigidos para concretizar seu objetivo de se apresentar como chefe de um governo moderno, pautado na austeridade fiscal.
Para tanto, não fugirá de um severo ajuste na máquina estadual, dizem os dois homens fortes com os quais ele vai contar. Braço direito de Cabral, o chefe do Gabinete Civil, Régis Fichtner, vai garantir a eficiência da gestão. O ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy terá a missão de recuperar a saúde financeira do Estado à frente da Fazenda.
Apesar de a governadora Rosinha Matheus (PMDB) ter anunciado que deixará R$ 634 milhões em caixa, o cenário que a equipe de Cabral construiu, com a ajuda de Sergio Rui Barbosa, futuro secretário de Planejamento, é de um ¿grande buraco orçamentário e desorganização financeira¿, segundo Fichtner. Um estudo do Tribunal de Contas do Estado e da Fundação Getúlio Vargas aponta a necessidade de um corte de R$ 2,7 bilhões no custeio.
Rosinha e Cabral são aliados, mas se desentenderam durante a transição. ¿Não tenho informação nenhuma sobre quanto o Estado tem em caixa. Há uma ausência completa de informação em basicamente todas as áreas¿, queixou-se Cabral. No entanto, ele avisa, não usará a herança como desculpa para optar pela imobilidade. ¿Vamos priorizar a gestão fiscal e orçamentária séria e implantar a transparência nos gastos¿, sintetiza Fichtner.
Levy vai no mesmo caminho e classifica 2007 como um ¿ano de ordenação¿. O homem que foi um dos principais auxiliares do ex-ministro Antonio Palocci só deixou a confortável posição na direção do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) porque ganhou carta branca para aumentar a arrecadação e cortar despesas.
Cabral já determinou ao secretariado um corte inicial de 30% nos gastos. O número de secretarias foi reduzido de 28 para 19. Entre as medidas delicadas está a revisão dos controvertidos contratos de terceirizados por meio de ONGs. O governador aposta ainda no bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
RECURSOS
Levy já vinha conversando com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de quem ouviu a disposição para ajudar o novo governo do Rio se necessário. O primeiro agrado Levy já comemora. O Ministério da Fazenda não pediu veto, e o presidente Lula sancionou na semana passada o projeto do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que amplia de 50% para 70% o uso de recursos depositados em juízo pelos Estados.
O relacionamento com o presidente é também o caminho de Cabral para fazer investimentos. Ele pediu recursos a fundo perdido para a expansão do metrô da capital, que avançou pouco mais de um quilômetro nos governos de Anthony Garotinho e Rosinha. Outra parceria será na gestão de segurança. Eleito com o apoio de ampla frente de partidos, Cabral terá o desafio de manter coeso um secretariado com nomes que vão do PT ao PP, passando pelo PSDB e pelo seu PMDB.