Título: Jurando vingança, centenas visitam túmulo de Saddam em sua vila natal
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2007, Internacional, p. A14
O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein foi enterrado ontem de madrugada em seu vilarejo natal, Awja, nos arredores de Tikrit, horas depois de ter sido enforcado em Bagdá por crimes contra a humanidade. Prometendo vingança, centenas de sunitas saíram às ruas de Tikrit e visitaram o túmulo. Eles se ajoelharam e rezaram ao lado da tumba, sobre a qual foi colocada uma bandeira do Iraque. O retrato de um Saddam jovem e sorridente também foi colocado sobre uma cadeira próxima.
¿Condeno o modo como ele foi executado e considero isso um crime¿, disse Hassan al-Nasseri, de 45 anos, membro da clã de Saddam.
A polícia bloqueou a entrada da cidade sunita de Tikrit e disse que ninguém podia entrar ou sair por quatro dias. Apesar da medida de segurança, homens armados tomaram as ruas de Tikrit carregando fotos do ex-ditador, disparando para o ar e jurando vingar a execução. Desafiando o toque de recolher, outras centenas de seguidores de Saddam também tomaram ontem as ruas de Samarra, ao norte de Bagdá, e de Ramadi, a oeste da capital, reduto da insurgência sunita.
¿Os americanos queriam enterrá-lo o mais breve possível¿, disse Mussa Farak, um parente de Saddam que acompanhou o sepultamento. ¿Centenas de membros do clã de Saddam, os Albu-Nassir, estavam presentes, entre eles o xeque Ali al-Nidaa. O governador da Província de Salahuddin, Hamed al-Chakti, também foi ao enterro¿, acrescentou Farak.
Dezenas de parentes, alguns chorando, assistiram ao sepultamento, que durou 25 minutos e ocorreu por volta das 3 horas locais (22 horas de sábado em Brasília), em um edifício construído em Awja durante o governo Saddam, normalmente usado para cerimônias fúnebres. Também estão sepultados em Awja os filhos do ex-ditador, Udai e Qusai, mortos durante um combate com soldados americanos em Mossul, em julho de 2003.
O corpo de Saddam foi levado para Tikrit por um helicóptero americano, disseram funcionários do governo iraquiano. Em seu testamento, entregue a parentes, o ex-presidente pedia para ser enterrado em Awja ou em Ramadi. A família tinha divulgado inicialmente um comunicado dizendo que Saddam seria enterrado em Ramadi, mas ele acabou sendo sepultado em seu vilarejo natal depois de negociações entre as autoridades iraquianas e americanas e membros da clã do ex-ditador.
¿Recebemos o corpo de Saddam Hussein sem nenhuma complicação¿, disse o chefe do clã do ex-ditador, xeque Ali al-Nidaa. Segundo o xeque, o corpo de Saddam havia sido preparado de acordo com os rituais islâmicos e não apresentava sinais de maus-tratos.
Mas as disputas sectárias que levaram o Iraque à beira da guerra civil podem ser inflamadas por causa da divulgação na internet de um novo vídeo mostrando funcionários xiitas zombando do ex-ditador e o mandando ¿para o inferno¿ quando ele estava prestes a ser enforcado.
Há uma profunda raiva entre a minoria sunita, não apenas por causa do enforcamento de Saddam, mas também pela perda do poder político que essa comunidade deteve por décadas. até a deposição de Saddam por tropas americanas, em abril de 2003. Em dezembro daquele ano, Saddam foi capturado.
No sábado, pelo menos 80 iraquianos morreram em atentados, horas após a execução de Saddam. Ontem o dia foi mais calmo. Seis pessoas morreram em atentados e a polícia disse que encontrou em Bagdá os corpos de outras 12 que haviam sido torturadas.
`NOVO LÍDER¿
Um grupo de seguidores do Partido Baath, de Saddam, prometeu lealdade ao foragido vice-presidente Izzat Ibrahim e o nomeou ¿presidente legítimo do Iraque¿, em um comunicado divulgado ontem na Jordânia. Ibrahim, ex-vice de Saddam por quem há uma recompensa de US$ 10 milhões, não é visto desde 2003. Acredita-se que esteja liderando os baathistas na insurgência.