Título: Ritmo de entrada de empresas na bolsa deve se manter
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2007, Economia, p. B3

O ritmo de movimento de abertura de capital deve continuar em 2007. Pelo menos nove companhias já protocolaram pedido na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e aguardam resposta do órgão. Na lista estão nomes como CPM, Tecnisa, Camargo Corrêa, Shopping Iguatemi e Rodobens. ¿O mercado internacional, com taxas de juros baixas e elevada liquidez, coloca os países emergentes em evidência, em especial o Brasil¿, afirma o superintendente de relações com empresas da Bovespa, João Batista Fraga.

Segundo ele, nas operações de abertura de capital deste ano, 70% das ações foram compradas pelos investidores estrangeiros. ¿As empresas aproveitaram a elevada liquidez no mercado internacional para desengavetar projetos¿, afirma o diretor da Prosper Gestão, Júlio Martins. Para ele, os planos de lançamento, especialmente os de empresas de médio porte, devem continuar em 2007.

Esse movimento fortalece o mercado acionário brasileiro, ainda muito concentrado, afirma o analista da Modal Asset Management, Eduardo Roche. Ele lembra que durante muito tempo o setor de telecomunicações dominou a Bovespa. Hoje, as maiores companhias do mercado são aquelas ligadas a commodities, como Companhia Vale do Rio Doce e Petrobrás. A entrada de empresas de outros setores ajuda a pulverizar mais a composição dos índices usados pelo mercado.

O analista destaca, por exemplo, que a Cyrela deverá ser incluída no Índice da Bovespa, o chamado Ibovespa. ¿O setor de construção tem espaço para crescer no mercado acionário e pode reduzir a concentração dos principais índices, dominados por 5 ou 6 grandes empresas¿, diz. Portanto, conclui Roche, a entrada dessas companhias contribui para o crescimento do mercado de ações no Brasil, que durante anos só conviveu com o fechamento de capital de inúmeras empresas.

Apesar de apostar na continuidade do movimento de abertura de capital, Roche não acredita que uma empresa qualquer consiga estrear na Bovespa neste ano. ¿A perspectiva para 2007 é de nova alta, mas haverá um processo mais seletivo de investidores na compra de ações¿, alerta Roche.

O administrador de investimentos Fábio Colombo concorda. Segundo ele, o mercado acionário vive de ciclos e vai para o quinto ano de alta seguida, o que não é comum. De acordo com cálculos feitos desde 1968, o preço de alguns ativos brasileiros estão acima da média histórica. Sinal disso é que o Ibovespa não pára de bater recordes: foi a 44.473 pontos na sexta.

CAUTELA

Mas Colombo pondera: se a China mantiver o ritmo de crescimento atual, se os demais países asiáticos tiverem desempenho positivo e se os Estados Unidos não apresentarem uma desacelaração muito acentuada, a Bolsa pode continuar exibindo bons números. ¿O que quero dizer é que precisamos de cautela. Não dá para jogar todas as fichas no mercado de ações depois de quatro anos de valorização.¿

O diretor da Prosper, Júlio Martins, aposta que a Bovespa deve ter um resultado entre 10% e 15% acima do CDI em 2007.

No geral, 2006 foi considerado um ano de ouro para a Bovespa. Até o dia 21, o volume negociado na Bolsa paulista já atingia R$ 548 bilhões ante R$ 366 bilhões do ano anterior. O saldo de investimento estrangeiro somava R$ 1,4 bilhão, resultado de compras no valor de R$ 208,3 bilhões e vendas de R$ 206,9 bilhões. A participação do investimento estrangeiro nas operações era de 35,6%, acompanhada pelos investidores institucionais, com 27,1%, e pessoas físicas, 24,6%.