Título: Assembléia rejeita aumento de tributo no RS
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2006, Nacional, p. A7

A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul rejeitou o aumento de impostos em convocação extraordinária ontem e colocou o governo eleito de Yeda Crusius (PSDB) em crise política, três dias antes da posse. Por conta da apresentação do projeto e da derrota no Parlamento, a tucana terá de fazer diversas alterações no seu secretariado, que já estava montado. Alguns aliados estão descontentes por não terem sido consultados durante a elaboração do pacote e por não terem recebido orientações seguras na votação ontem.

Sem a arrecadação extra de R$ 1,4 bilhão que esperava para reduzir déficit de R$ 2,2 bilhões previsto para 2007, Yeda será obrigada a estabelecer prioridades. É possível que atrase pagamentos do funcionalismo. ¿Seria menos custoso para a sociedade se a Assembléia tivesse entendido que temos de ter mudanças estruturais¿, disse ela. ¿Mas os deputados têm autonomia e liberdade e não querem ser co-responsáveis pelo aumento de impostos.¿ A tucana tratará da remontagem de seu primeiro escalão enquanto se prepara para a posse, marcada para as 17 horas de segunda.

Descontentes com o aumento de impostos e alegando a necessidade de serem fiéis às suas bases, os deputados Berfran Rosado (PPS), Marquinhos Lang (PFL) e Jerônimo Goergen (PP) desistiram das secretarias de Planejamento, Inclusão Social e Agricultura, respectivamente. O líder do PSDB na Assembléia, Ruy Pauletti, deixou o cargo pouco antes da abertura da sessão e votou contra o projeto.

É provável que mais alguns secretários coloquem seus cargos à disposição, constrangidos pela posição que seus partidos tomaram na votação, e que, por motivos semelhantes, outros sejam convidados a se retirar. Nos últimos dias, a governadora eleita reiterou que só deveria participar da equipe quem estivesse disposto a assumir também o ônus de ser governo.

A posição mais vulnerável é a do PFL, sigla do vice Paulo Feijó e que só tinha Lang entre os 18 secretários - poderá ficar sem vaga. Feijó reclamou publicamente por não ter sido ouvido antes da apresentação do pacote. Ele passou o dia na Assembléia e vibrou quando soube da rejeição da proposta.

Até alas do PSDB, com quatro secretarias, ficaram na berlinda. PMDB, com três pastas, terá contas a acertar. O futuro chefe da Casa Civil, Luiz Fernando Zachia, foi o presidente da sessão que sepultou o projeto. Ao final, explicou que tinha de agir como magistrado e não poderia participar das articulações. Sua bancada se dividiu.

O PP, que tem quatro secretarias, e o PDT, com uma, também racharam. Só o PTB, com duas pastas, votou a favor do governo. A votação ocorreu sob pressão das galerias lotadas por empresários, sindicalistas e funcionários públicos, quase todos contrários ao projeto.