Título: Pacote fiscal pode ser razão da saída de Kawall
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2006, Economia, p. B3

Durante as discussões em torno do ajuste fiscal de longo prazo, o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall nunca escondeu sua oposição à proposta de reduzir o superávit primário, a partir de 2007, por meio do desconto do Projeto Piloto de Investimento (PPI). Para ele, a prioridade do governo deve ser reduzir a dívida pública interna, que ainda é muito elevada, mudar seu perfil e aumentar seu prazo de duração.

Para alcançar esses objetivos, segundo Kawall, o melhor seria manter o superávit primário do setor público em 4,25% do PIB. Um superávit maior permitirá a queda mais rápida da dívida interna líquida em proporção do PIB, o que levará as agências que medem o risco de cada país a conceder o grau de investimento ao Brasil.

Nessa disputa, Kawall enfrentou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que é a coordenadora do pacote de medidas econômicas a ser anunciado em janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E chegou a divergir publicamente do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Dilma abraçou a idéia de elevar o PPI de 0,2% para 0,5% do PIB e descontar essas despesas do superávit primário. Nesse caso, o superávit primário poderá ser reduzido de 4,25% para 3,75% do PIB.

Kawall chegou a afirmar que essa não seria a melhor maneira de estimular o crescimento. No mesmo dia, foi desautorizado por seu superior imediato, Mantega, que fez questão de confirmar que a idéia estava em estudo e a considerava importante para alavancar investimentos.

O ex-secretário ficou do lado daqueles que, no governo, defendiam um redutor para as despesas correntes da União, idéia inicialmente proposta pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. Mantega disse que o governo adotaria um redutor para as despesas, mas a idéia foi descartada.

Kawall defendia ainda, com Appy, a reforma da Previdência Social, com a fixação de idade mínima para se requerer a aposentadoria.

A saída de Kawall, no entanto, não é atribuída, no governo, às suas divergências com a orientação final do pacote econômico. ¿Kawall apresentava as suas posições nas discussões internas, mas jamais se colocaria contra uma decisão do ministro, pois tinha uma noção extremamente forte de hierarquia¿, disse uma fonte.

¿Por mais que as pessoas não acreditem, Kawall deixou o governo por razões pessoais. Ele tem uma filha pequena, que mora no Rio, com quem conversava por telefone umas 20 vezes por dia.¿