Título: Mortalidade em humanos é de 60%
Autor: Lopes, Adriana Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2007, Vida&, p. A15
Desde que matou o primeiro humano, em 1997, no sul da China, o vírus H5N1 causou a morte de 157 pessoas de um total de 263 infectados em dez países, segundo dados confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os números não param de crescer, porém ainda são considerados baixos. Mas o H5N1 causa alarde por dois principais motivos.
Primeiro, ele tem letalidade máxima para aves domésticas - em cerca de dois dias depois da contaminação, todas morrem. Em humanos, a taxa média de mortalidade é hoje de quase 60% - o índice de letalidade do vírus da gripe comum é de 0,1%.
Além disso, pela primeira vez na história se tem consciência prévia da possibilidade de uma pandemia. Nas três últimas, as gripes de Hong Kong (1968), Asiática (1957) e Espanhola (1919) só foram detectadas quando já haviam matado centenas de pessoas.
¿Hoje, acompanhamos o passo-a-passo de uma contaminação, caso por caso. Isso assusta a população, mas, por outro lado, nos dá a possibilidade de estudar a eficácia de remédios e vacinas¿, diz Luiz Jacintho da Silva, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Grupo Regional de Observação da Gripe (Grog), da Secretaria do Estado.
Hoje, o remédio mais indicado para combater a gripe aviária é o oseltamivir, princípio ativo do Tamiflu, fabricado pelo laboratório Roche (veja quadro ao lado).
É impossível calcular as chances de uma verdadeira pandemia. Para que isso ocorra, o vírus, que sofre mutações regulares, tem de passar por uma transformação que torne possível a transmissão entre humanos.
Além da letalidade do vírus, a forma como ele se dissemina torna difícil a contenção. A transmissão começa um dia antes do aparecimento dos sintomas da doença. O vírus letal da Síndrome Respiratória Aguda (SARS) que surgiu em 2003, por exemplo, se espalhava dois dias após os primeiros sinais de sintomas e por isso era mais fácil de ser controlado.
De acordo com recomendações da agência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, a primeira ação para impedir o surgimento de um vírus pandêmico atualmente é vacinando aves contaminadas (vacinas veterinárias). Até pouco tempo atrás, a orientação era matá-las.
De acordo com estudo epidemiológico publicado no ano passado na Nature, porém, uma vacinação imperfeita pode causar o espalhamento silencioso do vírus. Entretanto, quando um grande número fica imunizado, a doença se espalha muito lentamente no galinheiro e a probabilidade de a gripe passar despercebida se aproxima de 100%. ¿Há muita dúvida ainda se vacinar será mais eficaz que matar. O que se sabe é que a matança não impediu a transmissão¿, diz Jacintho.
A importação de animais contaminados, o trânsito de aves migratórias infectadas e a locomoção de pessoas com a doença são as formas de o vírus se espalhar.
Por enquanto, é difícil o H5N1 chegar ao Brasil. ¿A rota migratória principal que passa aqui vem da América do Norte. As aves teriam antes que contaminar animais de lá e só depois chegariam aqui¿, diz Marcos Boulos, infectologista do Hospital das Clínicas e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). ¿Quanto à importação de aves, o Brasil é exportador. Nosso risco, baixíssimo.¿
A OMS tem uma classificação própria para determinar o avanço das pandemias pelo mundo. São seis fases que funcionam como um sistema para informar governos e sociedade sobre o progresso da doença. O planeta está na fase 3, o que significa que um novo subtipo do vírus influenza (no caso o H5N1) está de fato afetando humanos, mas ainda não se espalha entre eles.
Ontem uma mulher de 37 anos morreu de gripe aviária na Indonésia.