Título: PMDB pressiona para controlar BNDES e Lula pode optar por Delfim
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Nacional, p. A4

A presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é alvo da cobiça de peemedebistas de peso, cujo apoio é considerado fundamental para a coalizão governista. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogita atender ao partido realizando um desejo que também é seu: a pelo menos um interlocutor, logo após a posse, em 1º de janeiro, ele manifestou preferência pelo peemedebista Delfim Netto, deputado em fim de mandato, para ocupar a vaga.

Com a nomeação de Delfim, Lula atenderia ao PMDB com um cargo mais importante do que vários ministério e passaria a ter o economista a seu lado como uma espécie de conselheiro especial. Também seria uma forma de resolver a disputa dentro do partido por espaço no BNDES. A instituição está sob a vigilância de vários segmentos de peemedebistas.

O banco atrai a atenção do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que trabalha para indicar o economista José Carlos de Assis para a diretoria da área social - aposta que também tem o apoio do vice-presidente José Alencar. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), luta para emplacar um indicado na área de projetos industriais. O deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) tenta abocanhar a área de infra-estrutura.

O ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) tem se apresentado como uma espécie de padrinho de Delfim Netto. Mas no PMDB essa movimentação é vista como jogo de cena. Quércia sabe da preferência de Lula pelo ex-deputado, que não conseguiu se reeleger em outubro. Ele acrescentou ainda na sua lista de indicações os nomes de Luiz Gonzaga Belluzzo e Luciano Coutinho, outros dois economistas que hoje estão mais ligados ao ex-governador.

O BNDES é o maior banco de fomento do País. No ano passado teve autorização para gastar R$ 55 bilhões em financiamento a exportações, indústria, agropecuária, compra de frotas novas de ônibus e caminhões, infra-estrutura em portos, rodovias, aeroportos e ferrovias, construção de plataformas de petróleo e para a indústria naval. O BNDES também financia obras de infra-estrutura em países da América Latina nos quais atuam empresas brasileiras, como Peru e Venezuela.

PREFERÊNCIA

A ligação do presidente Lula com Delfim começou ainda no primeiro mandato do petista. Ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura durante o mandato de três presidentes do governo militar, Delfim transformou-se numa espécie de conselheiro informal de Lula. No início, por recados partidos do Congresso. Mais recentemente, por seguidos encontros entre os dois. Ontem, Estado tentou, mas não conseguiu ouvir o deputado.

Ao que se sabe, a preferência por Delfim Netto foi a única revelação feita por Lula até agora sobre suas intenções para o preenchimento dos cargos dos auxiliares mais próximos no segundo governo. Desejosos de saber o que os aguarda no futuro - se a perspectiva de mais quatro anos no governo ou a necessidade de procurar outra ocupação -, os auxiliares não têm tido colaboração de Lula, no que diz respeito a diminuir sua ansiedade ou atender a seus apelos.

O presidente se recusa a dar a qualquer um qualquer sinal. Pede sempre a seus assessores diretos que continuem trabalhando, porque somente depois de ter uma certeza sobre os rumos da coalizão de governo é que vai definir quem convidará. E para quê.

De acordo com informações já chegadas aos partidos, mais do que aguardar a definição a respeito das Mesas Diretoras do Senado e da Câmara para dar início à montagem do ministério, Lula quer saber quais parlamentares vão liderar suas bancadas. Por exemplo: se o líder do PTB for o deputado José Múcio Monteiro (PE) ou alguém ligado ao ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), o tratamento ao partido será um; se o líder tiver a influência do ex-deputado Roberto Jefferson, será outro.

O mesmo vale para o PP. Antes de escolher alguém do partido, Lula quer saber se essa pessoa estará do lado do senador eleito Francisco Dornelles (RJ), aliado, ou do deputado eleito Paulo Maluf (SP), um neoaliado do qual o presidente desconfia muito. O raciocínio tem sido aplicado também aos demais partidos.