Título: Procurador é acusado de contratar pistoleiros
Autor: Albuquerque, Liege
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Nacional, p. A9

O procurador-geral de Justiça licenciado do Amazonas, Vicente Augusto Cruz de Oliveira, está preso na sede do Ministério Público Estadual desde a madrugada de ontem, acusado de ter contratado dois pistoleiros para matar o procurador Mauro Campbell. O primeiro teria recebido R$ 20 mil para executar o crime no réveillon, mas teria sumido com o dinheiro, o que teria motivado Cruz a contratar o segundo pistoleiro, identificado como Frank.

Este denunciou o esquema a Campbell na quinta-feira passada. Avisado, o secretário de Segurança do Estado, Francisco Sá Cavalcanti, incluiu Campbell no programa de proteção de testemunhas da secretaria.

O motivo para a encomenda da morte seria supostamente eliminar o mais forte cotado para ser o novo procurador-geral. Campbell foi secretário de Segurança na primeira gestão do governador Eduardo Braga (PMDB) e é seu preferido para o posto. Cabe ao governador escolher o procurador-geral, a partir de uma lista tríplice, com os nomes dos mais votados pelos procuradores do Amazonas. A eleição está marcada para 15 de fevereiro. Além de Cruz e Campbell, outros quatro procuradores disputam o cargo.

A prisão preventiva de Cruz foi decretada na segunda-feira à noite pelo presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Francisco Auzier. Por ter foro privilegiado, o procurador não será investigado pela polícia, mas por um colegiado de membros do Ministério Público Estadual, formado por três procuradores e um promotor.

SIGILOSA

Ontem à tarde, o subprocurador Carlos Coelho anunciou que a investigação será sigilosa e não há data para sua conclusão. ¿O procurador Cruz está preso porque há indícios de um crime, mas tem o direito de recorrer ao pedido de prisão preventiva¿, disse Coelho.

Campbell contou que na mesma quinta-feira em que levou Frank à Secretaria de Segurança foram autorizadas escutas telefônicas nos celulares dos supostos intermediários de Cruz com o pistoleiro, Maria José Dantas da Silva e Élson Moraes. Os dois e o primeiro pistoleiro cujo nome não foi divulgado, estão sendo procurados.

Segundo fonte da Polícia Civil, nas gravações agora em poder do Ministério Público o nome de Cruz surgiu numa última conversa dele com Élson, na tarde de segunda. Cruz teria dito a Elson: ¿Venha à minha casa agora, deu errado, é para abortar.¿

Cruz foi procurador-geral até 15 de dezembro, quando se licenciou para concorrer novamente ao cargo. Ele está sob investigação do Conselho Nacional do Ministério Público, por supostas irregularidades no recebimento de cerca de R$ 100 mil a título de diárias, 101 ao todo. Ontem, Cruz não quis falar com a imprensa. A seus pares negou a contratação de pistoleiros. Sobre a gravação, explicou que havia contratado Élson para fazer um conserto em seu barco e desistiu do negócio.

Campbell chorou durante a entrevista. Contou que, na segunda, Cruz ligou para ele para prestar solidariedade.