Título: 'Não é estatização, e sim chavinização'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Internacional, p. A11
O que está ocorrendo na Venezuela não é nem uma estatização, nem uma nacionalização, mas uma ¿chavinização¿. É o que afirma o economista venezuelano José Luiz Cordeiro, professor do Istituto de Estudos Superiores em Administração (IESA) e autor do livro O Desafio Latino-Americano.
¿Essas empresas não vão parar nas mãos do Estado como parte de um amplo projeto formulado por um grupo de pessoas para mudar o país¿, explica Cordeiro. ¿O objetivo das estatizações é simplesmente ampliar o controle de Chávez sobre a economia e centralizar ainda mais o poder de decisão no presidente¿, acrescenta.
Segundo o economista, até hoje havia uma certa dose de ceticismo entre os empresários, os intelectuais e a classe média venezuelana em relação aos planos de Chávez de implantar o socialismo na Venezuela. ¿O que ficou claro é que, neste novo mandato, Chávez levará a sério suas propostas de revolução¿, diz.
O anúncio de que o presidente venezuelano vai nacionalizar empresas do setor de eletricidade e telefonia e pedir à Assembléia Nacional que aprove uma lei permitindo que governe por decreto (a ¿Lei Habilitante¿)teria concretizado para grande parte desses venezuelanos a visão de um regime totalitário e socialista no país.
¿Agora há muita gente em meu ciclo de convivência que está até planejando se mudar da Venezuela¿, diz Cordeiro que mantém contato com vários empresários por ter sido diretor da Associação de Exportadores Venezuelanos e participado na negociação da Alca (a extinta Área de Livre Comércio das Américas). ¿Parece não estar longe o dia em que a Venezuela terá refugiados políticos e econômicos como a Cuba de Fidel Castro¿, completa.
Centralização
A ¿Lei Habilitante¿ seria uma das provas de que o novo mandato de Chávez será mais radical e centralizador do que os venezuelanos esperavam. Esse dispositivo já foi adotado em 2001, quando o presidente venezuelano conseguiu a aprovação compulsória de 49 medidas. A diferença é que hoje Chávez detém 100% das cadeiras da Assembléia porque a oposição boicotou as últimas eleições legislativas venezuelanas.
¿O fato de Chávez querer uma lei que lhe permite governar passando por cima da Assembléia mesmo sabendo que todos parlamentares são seus aliados dá uma idéia do grau de centralização que ele quer atingir nesse novo mandato¿, diz Cordeiro.
Para o economista venezuelano Juan Nagel, da Universidade do Michigan, nos Estados Unidos, não há nenhuma razão econômica para estatizar companhias como a CANTV e a Eletricidade de Caracas. ¿Os preços já são controlados pelo governo e os serviços que elas oferecem são satisfatórios¿, afirma. ¿Isso fica claro se comparamos essas empresas com a estatal PDVSA, cuja produção caiu pela metade desde que Chávez assumiu por falta de investimentos e ineficiência.¿
A decisão teria sido tomada com base em uma concepção exclusivamente estratégica/militarista.
A estatização também poderia trazer um risco para a livre circulação de informações na Venezuela, segundo Nagel. Além de dominar a telefonia fixa na Venezuela, a CANTV é líder entre os provedores de internet no país. ¿Não descarto a possibilidade de Chávez tentar exercer algum tipo de controle sobre a rede¿, diz Nagel
FRASES José Luiz Cordeiro Economista venezuelano
¿O objetivo das estatizações é simplesmente ampliar o controle de Chávez sobre a economia e centralizar ainda mais o poder de decisão no presidente¿
¿Agora há muita gente em meu ciclo de convivência que está planejando sair do país¿
Juan Nagel Economista venezuelano
¿Não descarto a possibilidade de que, com o controle da CANTV, Chávez tente exercer algum tipo de controle sobre a internet¿