Título: 'Estatizações não afetam Petrobrás'
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Internacional, p. A12

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, afirmou ontem que a ameaça do governo venezuelano de estatizar unidades de refino na Venezuela não interfere nos planos da estatal brasileira para o país. Segundo ele, as declarações feitas anteontem pelo presidente Hugo Chávez ¿não deveriam ser surpresa para ninguém¿.

¿Decididamente não nos surpreende. Há um bom tempo ele vem anunciando isso¿, comentou Gabrielli, em rápida entrevista concedida no Aeroporto Santos Dumont, no Rio.

Segundo avaliações do mercado, Chávez está decidido a recuperar o controle sobre instalações de pré-refino de petróleo extrapesado na Venezuela. Essas unidades transformam o petróleo da região do Orinoco, que é extremamente viscoso, em um tipo de óleo sintético, que pode ser processado em refinarias comuns. A atividade tem hoje grande participação de companhias multinacionais, como as americanas ConocoPhillips, Chevron e Exxon Mobil e a francesa Total. As empresas são responsáveis pelo processamento de 600 mil barris por dia.

A Petrobrás ainda não tem operações neste segmento, mas negocia com a estatal venezuelana PDVSA o desenvolvimento de um campo chamado Carabobo 1, que necessitará de uma unidade de pré-refino. Segundo Gabrielli, as negociações não são afetadas pelos anúncios de estatização. O presidente da Petrobrás, no entanto, evitou avaliações mais detalhadas, alegando que não iria negociar por meio da imprensa.

¿É de conhecimento público que temos uma série de investimentos em comum programados, tanto lá - em campos maduros, exploração e produção - como aqui, na refinaria de Pernambuco, e estas negociações não mudam em nada. Além disso, nossas atividades no país já estão sob as regras de empresa mista implementada pela Venezuela no ano passado¿, disse Gabrielli.

A empresa já concluiu as migrações de todos os contratos de exploração e produção anteriores ao modelo atual, aplicado desde o início do ano passado, no qual a PDVSA é majoritária em todos os projetos do setor petrolífero venezuelano.

A estatal brasileira tem hoje seis concessões na Venezuela - quatro campos em produção e dois blocos exploratórios. Além das operações na Faixa do Orinoco, negocia ainda sua entrada no projeto Mariscal Sucre, grande complexo produtor de petróleo e gás no litoral venezuelano.

PETROBRÁS NA VENEZUELA

Concessões - A Petrobrás é concessionária de seis blocos petrolíferos na Venezuela - quatro já em produção e dois ainda em exploração.

Reservas - A petrolífera brasileira tem reservas de aproximadamente 270 milhões de barris de óleo equivalente (somado ao gás) na Venezuela.

Produção - A Petrobrás produziu, no ano passado, uma média de 13,4 mil barris de óleo equivalente por dia na Venezuela.

Orinoco - A empresa negocia a participação em projetos na Bacia do Orinoco, onde recentemente foi anunciada uma descoberta de óleo extrapesado, e no projeto Mariscal Sucre.

Outros projetos - Os negócios fazem parte de uma série de projetos em conjunto. Esses projetos incluem a Refinaria Barbosa Lima sobrinho, no Brasil, e a avaliação de oportunidades em outras áreas, como energia e biocombustíveis.

Gasoduto - A Petrobrás estuda, em conjunto com a petrolífera venezuelana PDVSA e outras estatais sul-americanas, a construção do Gasoduto do Sul, ramal que ligaria as reservas venezuelanas à Argentina, cortando todo o território brasileiro.