Título: Encontrado primeiro trio de quasares
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Vida&, p. A16

Um buraco negro já é uma força e tanto - pense em três deles juntos. O quase inimaginável foi descoberto a 10,5 bilhões de anos-luz da Terra, na direção da Constelação de Virgem, por um grupo internacional de astrônomos. Eles comprovaram pela primeira vez a existência de um sistema triplo de quasares, objetos mais luminosos do que galáxias, formados pelo material de estrelas e gases prestes a ser engolido aos turbilhões por buracos negros supermaciços.

Em termos cósmicos, os três estão muito próximos, a cerca de 100 mil a 150 mil anos-luz de distância - mais ou menos o tamanho da nossa Via Láctea. Cada quasar pode emitir mil vezes mais luz do que uma galáxia formada por 100 bilhões de estrelas, e isso num volume menor do que o sistema solar.

¿Quasares são muito raros. Existiam modelos que projetavam a existência de um sistema triplo, mas esta é a primeira comprovação. Até mesmo estatisticamente esta é uma descoberta interessante¿, diz o radioastrônomo Claudio Tateyama, do Centro de Radioastronomia e Radiofísica Mackenzie.

Apesar da magnitude, os astrônomos só tiveram certeza de que eram três quasares mesmo ao deixar de lado outras possibilidades, especialmente a freqüente ¿miragem cósmica¿. Não se trata de perturbação mental de cientista maluco que passa horas olhando para o céu, mas um fenômeno cosmológico cuja explicação foi fornecida por Albert Einstein em sua Teoria Geral da Relatividade.

GRANDE LENTE

Um objeto com muita massa, como uma grande galáxia ou um aglomerado delas, tem a capacidade de deformar o espaço ao redor, desviar raios de luz e convergi-los novamente. É a chamada ¿lente gravitacional¿.

Sendo assim, quasares solitários podem ser confundidos com sistemas duplos por causa de uma ilusão óptica. Se um desses grandalhões está posicionado em linha entre o observador na Terra e o quasar, os raios de luz que chegam aos olhos do astrônomo são arqueados e ele enxerga dois em vez de um.

Hoje centenas desses casos são conhecidos pelos cientistas. No caso desse trio, a dúvida ainda pairava no ar. Exatamente por causa dessa miragem, outros grupos de astrônomos haviam proposto que talvez existissem na verdade dois quasares, não três.

A questão só foi esclarecida ontem, com a apresentação na reunião anual da Sociedade Astronômica Americana, na cidade de Seattle, de resultados coletados em dois observatórios: o Europeu Austral, no Chile, e o Keck, no Havaí. Segundo o líder do grupo, o astrônomo George Djorgovski, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), a equipe usou os dados para executar uma série exaustiva de modelos teóricos que explicassem a geometria observada pela ¿miragem cósmica¿, sem sucesso. A única explicação possível era a existência de três quasares.

Além disso, nenhum traço de outro corpo maciço que pudesse alterar o curso dos raios luminosos foi encontrado na linha de visão. E, para reforçar a tese, o grupo ainda detectou pequenas variações nas propriedade dos três quasares.

MÉNAGE CÓSMICO

O grupo ainda não sabe como os três buracos negros se formaram. No artigo submetido para publicação na Astrophysical Journal Letters, eles especulam que o trio seja resultado da interação de três galáxias, talvez pela colisão delas.

Isso teria ocorrido no passado, quando os objetos estavam próximos uns dos outros. O estudo desse grupo e a descoberta de outros sistemas triplos ajudarão os cientistas a reconstruir em detalhes a história do cosmo.