Título: Turbulências em países emergentes derrubam bolsas em todo o mundo
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Economia, p. B1
Eventos protagonizados por países emergentes nos últimos dias azedaram ainda mais o humor do mercado financeiro ontem. O mais importante foi o anúncio da nacionalização de vários setores da economia da Venezuela, feito pelo presidente Hugo Chávez, que levou a Bolsa de Caracas a despencar quase 19%. Eles se somaram a dois fatores que já preocupavam os investidores neste início de ano: a intensidade da desaceleração da economia dos Estados Unidos e a queda dos preços das commodities, em especial o petróleo, no exterior.
Além da Venezuela, houve tensão na Tailândia e na Rússia. A Bolsa de Bangcoc caiu 2,7%, depois que o governo militar do país anunciou medidas para limitar a participação de estrangeiros nas empresas tailandesas. A Bolsa de Moscou recuou 6,4% por causa da queda do petróleo e do conflito entre Rússia e Bielo-Rússia, que culminou com a interrupção do fornecimento de óleo russo a países europeus.
Outros mercados foram atingidos por tabela, ainda que em menor intensidade. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), por exemplo, recuou 1,92% e o risco Brasil avançou 1%, para 199 pontos. O índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, fechou em baixa de 2,72% e a Bolsa do México caiu 1,9%. O indicador que mede o nível de risco dos países emergentes (EMBI, na sigla em inglês, calculado pelo banco JP Morgan) subiu 1,14%, para 178 pontos.
'Aos olhos do investidor, esses atos representam uma apropriação indébita de ativos. Infelizmente, o Brasil pode ser atingido por essas atitudes', afirmou Venilton Tadini, diretor do Banco Fator. Segundo ele, 'a nacionalização em países com economias sem política fiscal eficiente acaba se transformando em gastos sem fim'.
O economista Celso Toledo, da MCM Consultores, observou que o Brasil está mais forte hoje para enfrentar as turbulências vindas do exterior. 'Se fosse há 10 anos, estaria um deus-nos-acuda.' Na avaliação dele, a volatilidade dos mercados deve-se às dúvidas sobre a economia americana e ao vaivém das commodities no mercado internacional. A seqüência de episódios envolvendo países emergentes, segundo o economista, apenas adiciona mais nervosismo ao dia-a-dia dos negócios.
PETRÓLEO
As fortes oscilações do petróleo também foram decisivas para o comportamento dos investidores ontem. Os contratos futuros da commodity para entrega em fevereiro fecharam a US$ 55,64 na Bolsa Mercantil de Nova York, uma queda de US$ 0,45 (0,80%) em relação à segunda-feira. Durante o dia, as cotações chegaram a recuar para o menor nível em 18 meses.
Na Bolsa Intercontinental de Londres, os contratos do tipo Brent também para fevereiro fecharam a US$ 55,18 por barril, queda de US$ 0,42 (0,76%). Segundo analistas, a tendência de baixa é positiva para países consumidores, como os Estados Unidos. Em compensação, afeta negativamente os exportadores e as ações de empresas do setor, como a Petrobrás. Os papéis preferenciais da estatal recuaram 2,17% na Bovespa.
Analistas disseram que a queda se deveu às previsões de temperaturas amenas nos EUA e a sinais de que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não estão cumprindo os cortes de produção anunciados em dezembro.