Título: Petrobrás participa de licitação para exportar mais gás boliviano
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2007, Economia, p. B6

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, confirmou ontem que a companhia está participando da concorrência aberta pelo governo boliviano para exportar gás para a Argentina. O negócio pode marcar o retorno dos investimentos da estatal brasileira ao país, suspensos desde que o presidente Evo Morales decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos (petróleo e gás), em 2005. Os envelopes com as propostas deveriam ter sido abertos ontem, mas a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) adiou o processo para o dia 16.

Gabrielli evitou detalhar a proposta da empresa, mas é consenso no mercado que novos investimentos serão necessários para o país conseguir cumprir o contrato assinado com a Argentina em outubro.

No contrato, o governo da Bolívia se comprometeu a entregar até 27,7 milhões de metros cúbicos por dia ao mercado argentino durante os próximos 20 anos. Estudos de consultorias especializadas apontam que não há capacidade adicional de produção no país para atender aos novos volumes contratados.

Segundo nota da YPFB, a prorrogação do prazo foi necessária porque o governo boliviano ainda não conseguiu protocolar em cartório todos os 44 novos contratos de concessão assinados com as petroleiras no fim de outubro do ano passado. O objetivo da YPFB é dividir a encomenda argentina entre todas as companhias que têm operações no país, 'de forma que todos seja beneficiados', diz a nota.

O contrato com a Argentina foi assinado pouco antes do prazo final de negociações com as petroleiras sobre a nacionalização e é considerado por analistas o grande trunfo apresentado pelo governo Evo Morales no processo.

Segundo esse raciocínio, ao garantir uma encomenda desse porte, o governo de La Paz conseguiu um forte argumento para vencer a resistência das empresas ao novo modelo do setor. Afinal, há grandes reservas já descobertas no país, mas ainda não desenvolvidas por falta de mercado consumidor.

Gabrielli não quis informar de que campo virá o gás da Petrobrás para o contrato com a Argentina. A estatal brasileira opera duas das maiores reservas da Bolívia, os campos de San Alberto e San Antônio, que hoje produzem para exportação para o Brasil.

Além disso, A Petrobrás tem concessões de campos menores e de áreas exploratórias no país. A empresa negocia ainda o aumento das vendas para o mercado brasileiro, com a ampliação do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), em um processo paralelo com a YPFB.

CHANCE

Segundo observadores bolivianos, a concorrência para exportação para a Argentina é a grande chance das multinacionais - como a francesa Total, a espanhola Repsol e a British Gas (BG) - de desenvolverem as descobertas feitas nos últimos anos na Bolívia.

A Repsol, por exemplo, opera o campo gigante de Margarita, que hoje produz menos que a sua capacidade. Já a Total é operadora do campo de Itaú, próximo dos megacampos da Petrobrás, ainda inativo. A British Gas é sócia dos dois projetos. Uma fonte próxima do setor indica que todos os grandes operadores do país apresentaram propostas para a concorrência.