Título: Crise deixou dívidas de R$ 23,9 bilhões
Autor: De Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2007, Economia, p. B1

Nas últimas quatro safras - de 2003 a 2006 -, o Brasil produziu 476,1 milhões de toneladas de grãos, mas o agricultor empobreceu. As dívidas somam R$ 23,9 bilhões. Mas as previsões são de boa produção em 2007 - entre 118 milhões e 120,2 milhões de toneladas - e preços melhores. A boa fase deve se manter em 2008 e, segundo consultores, o produtor deverá pôr as dívidas em dia. 'Esperamos novos investimentos e grande expansão da agricultura a partir de 2009', prevê André Pessoa, da Agroconsult.

O desafio para o produtor é pagar o que deve e continuar produzindo. 'É uma dívida com juro caro. O governo precisa rever esse endividamento', defende o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), César Ramalho. Para ele, a agricultura andou 'de marcha à ré' na maior parte do governo Lula. 'Entramos em 2003 com renda e investimentos para ampliar a produção, mas, de lá para cá, só houve queda de renda.' Descapitalizado, o agricultor foi às ruas pedir a rolagem da dívida.

O maior problema, segundo Ramalho, foi o câmbio, com o dólar desvalorizado ante o real. 'Na primeira safra do governo Lula, vendemos soja com o dólar a R$ 3,80. Na última, a moeda americana valia R$ 2,18.'

Ramalho lembra que o setor de carnes também sofreu impacto com a aftosa em Mato Grosso do Sul, em outubro de 2005. Segundo ele, o governo precisa reduzir 'com urgência' o risco sanitário. Apenas a cana-de-açúcar, beneficiada pelo uso do álcool como combustível, e a laranja se salvaram na crise do agronegócio.

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, está convencido de que a crise na agricultura teve motivação política. 'O que quebrou o produtor foi a comida barata para viabilizar o (programa) Fome Zero, foi a fartura na mesa da população pobre bancada com o prejuízo do agricultor.'

Pessoa, da Agroconsult, prevê um quadro mais promissor para a agricultura nos próximos anos. A queda nos custos de produção e a recente recuperação dos preços internacionais da maioria dos produtos agrícolas apontam para um ano de lucros, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste. As perspectivas de que se tenha encerrado o processo de valorização do real ante o dólar e de continuidade na queda dos juros ajudam a trazer a confiança de que o pior já passou. Os preços internacionais de grãos e oleaginosas estão em alta novamente, por causa do crescimento da demanda por biocombustíveis.