Título: Kirchner descongela tarifa de energia elétrica após 5 anos
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2007, Economia, p. B7

Pela primeira vez em cinco anos, as distribuidoras de energia elétrica poderão aumentar suas tarifas na Argentina. A permissão para implementar reajustes de até 15% vai valer apenas para os consumidores industriais e comerciais. Os consumidores residenciais - segundo analistas, por questões eleitorais - serão poupados.

Para os especialistas, o presidente Néstor Kirchner faz jogo duplo com a medida. De um lado, evita irritar o consumidor residencial com um aumento de preços a poucos meses do início da campanha eleitoral. Kirchner seria candidato à reeleição, embora também se especule que a candidata poderia ser sua esposa, a senadora Cristina Fernández de Kirchner. Ao mesmo tempo, o atual presidente descomprime a elevada tensão com as empresas privatizadas, ao liberar as tarifas, embora de forma parcial.

Em troca da liberação, as empresas se comprometem a uma série de investimentos no setor nos próximos cinco anos. O acordo estipula que os consumidores residenciais não sofrerão qualquer tipo de aumento de tarifas em 2007. Kirchner também arrancou das empresas o compromisso de desistir de processos na Justiça contra o Estado por causa de eventuais perdas decorrentes do congelamento nesses cinco anos.

O congelamento de tarifas foi feito pelo governo do então presidente provisório Eduardo Duhalde em janeiro de 2002, no meio da maior crise financeira, social e econômica da história argentina. Na época, o governo argumentou que o congelamento era necessário para evitar um aprofundamento da crise.

Nos meses posteriores, o congelamento foi mantido com o argumento de que era crucial para permitir a recuperação da economia. As privatizadas reclamaram, mas o governo Duhalde se manteve firme em sua posição. Com a posse de Kirchner, em 2003, a economia começou a crescer. Mas Kirchner, para ampliar sua popularidade (chegou ao poder apenas com 22% dos votos), impediu o descongelamento.

Entre 2003 e 2006, a economia cresceu, em média, 9% ao ano. No entanto, Kirchner só concedeu, a conta-gotas, aumentos para as geradoras e transportadoras de energia.