Título: Europeus querem saber qual a fórmula para promover o crescimento do Brasil
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2006, Nacional, p. A7

Quando tomou posse, há quatro anos, Luiz Inácio Lula da Silva despertou a curiosidade mundial de banqueiros, políticos, empresários e da imprensa. A pergunta era uma só: que rumo tomará o Brasil com a vitória do ex-sindicalista que, por anos, foi um duro crítico do sistema financeiro internacional? Esta semana, quando é empossado para seu segundo mandato, os fantasmas da estatização ou dos calotes já desapareceram e Lula surge como uma espécie de contraponto às iniciativas do venezuelano Hugo Chávez.

Agora, o que todos querem saber é o que ele fará para promover o crescimento do País, um dos mais baixos entre as nações em desenvolvimento nos últimos anos. Assim como ocorreu há quatro anos, a primeira oportunidade que Lula terá para falar de seus planos para a comunidade internacional será o Fórum Econômico Mundial, no fim de janeiro, em Davos, na Suíça. Poucas semanas após assumir o governo, em 2003, Lula foi a grande estrela do evento ao promover projetos como o Fome Zero e exibir um discurso responsável em suas políticas macroeconômicas.

Este ano o fórum organiza mais uma vez uma plataforma para que Lula se explique. 'O grande desafio do País agora é criar um melhor ambiente para receber investimentos e adotar reformas para crescer a taxas mais parecidas com as dos demais mercados emergentes', afirmou um analista da entidade. Países como China e Índia têm crescido a taxas três vezes maiores que a do Brasil, o que deixa o País num segundo plano para muitos investidores.

Executivos de grandes bancos europeus confirmaram que a reeleição de Lula foi considerada um 'não-evento' para o mercado, ou seja, não teve impacto nas bolsas internacionais. A classificação como um 'não-evento' é positiva: mostra que os mercados confiam no sistema democrático do País.

No setor financeiro, o que os principais bancos e autoridades monetárias mundiais ainda buscam saber é se o Brasil manterá o mesmo ritmo de queda das taxas de juros ou se cederá às pressões políticas e afrouxará o controle. Jean Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, insiste na necessidade de autonomia para o Banco Central brasileiro, para que ele rechace essas pressões.

Os empresários europeus admitem que os escândalos de corrupção afetaram a imagem de Lula no exterior. 'Não vou pagar para investir no Brasil. Lula prometeu lutar contra a corrupção e não fez nada', acusou há poucas semanas Nicolas Hayek, presidente mundial da Swatch.