Título: De show a site, iniciativa está mais próxima do cidadão
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2006, Vida&, p. A18

O que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore tem em comum com o estatístico brasileiro Antônio Marcos de Almeida? Consciência ambiental. Cada um a seu modo aderiu à neutralização de carbono.

Gore vestiu a camisa, ganha para falar sobre o tema em todo o mundo e compensa a emissão envolvida com seu trabalho ao incentivar projetos florestais. Sua recente viagem ao Brasil, por exemplo, e a edição brasileira de seu livro A Verdade Inconveniente foram neutralizados.

Almeida foi o primeiro cliente da concessionária Primo Rossi, em São Paulo, a adquirir o selo ¿Carro Limpo¿: o comprador paga por três árvores e a empresa, por outras três. Elas equivalem a uma média de quanto carbono é emitido por ano por um carro movido a gasolina numa cidade grande como São Paulo. ¿Compete a nós fazermos o esforço necessário para cuidar do que temos, e em algum momento é preciso começar¿, diz o estatístico.

As árvores serão plantadas pela ONG SOS Mata Atlântica, dentro do projeto Florestas do Futuro, que visa à recuperação de mananciais pelo reflorestamento de espécies nativas. ¿Não vamos bancar 100% da neutralização porque o cidadão tem de ter consciência da responsabilidade dele¿, diz Vitorinho Rossi, presidente do grupo. ¿Pretendemos vender mais carro com isso? Também. Mas espero mesmo é ser copiado por outras concessionárias.¿

O cidadão que deseja neutralizar suas emissões tem dois caminhos. Um é pressionar empresas a fazerem seus inventários e preferir aquelas já comprometidas. Outro é usar calculadoras online para saber quanto emite e investir em projetos florestais, como o Click Árvore (www.clickarvore.com.br).

Na Europa, a adesão de empresas e dos consumidores leva ao fortalecimento de iniciativas às vezes até inusitadas. É possível comprar de passagens aéreas a trajetos urbanos em táxis ¿livres de carbono¿. A organização da Copa do Mundo na Alemanha calculou quanto carbono seria emitido em transporte de delegações e espectadores, mais o gasto do evento em si (da iluminação dos jogos ao lixo produzido) e investiu em projetos de desenvolvimento limpo num país em desenvolvimento.

No Brasil, esse nível de consciência está muito longe de se tornar realidade. É ainda difícil achar quem neutralize carbono - de fato, ainda é raro encontrar alguém que pense nisso.

São poucos os casos, porém crescentes. As consultorias ambientais estão confiantes. A Conferência da ONU sobre Biodiversidade, que aconteceu em Curitiba em 2006, foi neutralizada, assim como alguns shows - médios, como o do Rappa em São Paulo; festivais, como o Pop Rock Brasil; e apoteóticos, como o dos Rolling Stones. Para 2007, os pagodeiros do Jeito Moleque são os próximos.