Título: Analistas esperam 'mais do mesmo'
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2006, Economia, p. B3

Apesar do otimismo do governo, economistas acreditam que os próximos anos trarão ¿mais do mesmo¿. Superar o crescimento modesto, abaixo dos 4%, ainda será o maior desafio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois os principais obstáculos a um desempenho vigoroso não estão sendo atacados. ¿Há uma convergência de que os temas relevantes para o crescimento são a política fiscal e a questão regulatória¿, disse Roberto Padovani, sócio da Tendências Consultoria Integrada. ¿O problema é que o governo não está convicto disso.¿

A política fiscal, ou seja, as decisões sobre como o governo tributa a sociedade e como gasta esse dinheiro, é apontada como o grande nó do crescimento. Com sua política de evitar sacrifícios, o presidente Lula tem permitido o aumento das despesas, e isso é entendido, pelas empresas, como sinal de que o peso da carga tributária não será aliviado tão cedo. Pelo contrário. Nesse sentido, a decisão de elevar o salário mínimo a R$ 380 ¿é um sinal ruim, porque aponta para a deterioração das contas públicas e cria novo engessamento no gasto¿, avaliou Padovani.

O outro nó é a carência de regras claras e estáveis para setores regulados pelo governo, como energia, telefonia, petróleo, saneamento. Sem atacar esse problema, o governo dificilmente estimulará o setor privado a investir forte. Reduzir tributos de forma seletiva, como está sendo estudado para o pacote que o presidente Lula pretende lançar em janeiro, ajuda, mas não resolverá o problema, como já alertou o presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy.

E, ainda que o pacote seja um sucesso, o efeito sobre a economia não será imediato, lembra o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Serão necessários alguns anos até que sejam removidos os entraves que hoje impedem a economia brasileira de crescer a um ritmo superior a 4% ao ano. ¿Se der tudo certo, um crescimento sustentado de 5% é viável a partir de 2009¿, avaliou. ¿Antes disso, a economia não tem musculatura para um crescimento sustentável forte.¿

O problema mais imediato em infra-estrutura é o risco de um novo apagão elétrico. O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) alertou, em boletim de novembro, que a economia brasileira não crescerá mais do que 4% até 2010 por duas razões: falta de energia e baixa taxa de investimento. Um crescimento da ordem de 3,5% ao ano não está ruim, considerando que a média do primeiro governo Lula ficou em 2,6%. ¿O diabo é que poderíamos estar crescendo mais¿, lamenta Padovani. O próximo ano será tranqüilo no cenário externo, com as principais economias crescendo. Nesse quadro, o Brasil deverá receber um fluxo importante de investimentos do exterior, que seria ainda maior se não fosse pelas incertezas na área fiscal e regulatória.